quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O primeiro dia de aula

Eu fui aluna de colégios extremamente exigentes. Daqueles dos quais saíram os grandes ditadores!
Melhor que isso: Compraram os colégios! E lá estava euzinha.
Não reclamo, porque tudo que aprendi foi graças... ao MEU ESFORÇO!
Dito isto, vou tentar explicar. O cólegio, por mais famoso que seja, com o melhor corpo docente possível e imaginável, só vai para as cabeças, nos concursos, graças ao esforço de cada aluninho, que consiga sobreviver à pressão.
Assim foi com a minha mãe, comigo e com todas as gerações que estão por vir.
Mas o que isto importa?
Sim, porque influenciou a minha vida e gerou a história que narrarei. E, acreditem, ACONTECEU!
Prosseguindo, na escola onde cursei o segundo grau- não mencionarei o nome porque nunca nos deram qualquer abatimento na mensalidade, hum!- a ordem era: Atraso é anotado na caderneta e, no terceiro do mês, volta para casa.
Aí, meus queridos leitores, vocês vão pensar: Ela é de mil novecentos e bolinha!
Não mesmo! O rigor era rançoso. Eu não!
Prosseguindo, houve um dia no qual o busão ( tradução: ônibus) enguiçou e nós ficamos retidos, aguardando o próximo. Era um ônibus de linha, normal, sendo que, naquele horário de 06:45h era quase um "fretamento" de alunos, porque era o ÚNICO que deixava o pessoal próximo ao colégio.
Afinal, esse colégio ficava na floresta Amazônica?
Não!  Por incrível que pareça, continua sendo a ÚNICA LINHA- até hoje.
Bom, chegamos atrasados trinta segundos - eu disse trinta SEGUNDOS- confirmados no relojão que horrorosamente ornava o início da escadaria.
Fomos impedidos de entrar em sala. Desespero geral, os inspetores com um prazer quase sexual carimbando as cadernetas com "ATRASO" e eu, quase aos prantos -eu tinha quatorze anos, peguem leve!- tentando dissuadir o inspetor, um coroa chamado Beto.
Cá entre nós, eu não me recordo do nome, mas sei que não era Roberto, Alberto, Eriberto, nada assim.
Tava mais para Ariosvaldo...
" Beto, são trinta segundos e eu acho que esse relógio está adiantado"
" Adriana, ordens são ordens!"
" Beto, pelo amor de Deus. O ônibus quebrou e....".  Bem, lá fui eu contando o drama da manhã e implorando para que houvesse a liberação dos alunos para as salas.
O Beto, em questão, pouco se deu com os apelos. Era a instância máxima - e gostava de sê-la- naqueles casos e tascou carimbada nos "atrasados".
Ah, esqueci de acrescentar:  o colégio aplicava provas em TODOS os sábados do ano, exigindo média sete para aprovação imediata. Recuperação: no máximo em três matérias.
E você já estaria acabado, se fosse em uma, apenas.
Então, para completar, qualquer tempo de aula que se perdesse era sinônimo de guilhotina.
" Beto, o tempo que vamos aguardar fora nos é negado o ensino. Isso é antiproducente!"
Ai, gente! Eu já gostava das grandes pelejas! Fofo!
E, afinal, perdi. Foram uns quarenta alunos, mais ou menos, aguardando cinquenta minutos fora de sala, por um atraso de trinta SEGUNDOS.
Sobrevivi ao campo de concentração e fui aprovada na concorridíssima UFRJ. Direito.
Logo no primeiro dia de aula EU ME ATRASEI QUINZE MINUTOS!
Sério?! Pior  que foi, gente.
Em desespero, procurei a secretaria e aí se dá a nossa real história real.
" Por favor...", já com a cabeça baixa, esperando o carimbaço.
"Sim...", por detrás do vidro uma mulher no esquema mal amada, rancorosa, amarga e por aí vai, que me lançou um olhar como se eu fosse...estrume.
Bonito. ESTRUME. Estou sendo educada com vocês, ok?!
" Eu vim me apresentar..."
A mulher olhou para mim como se olha um E.T, um Unicórnio, a Medusa, sei lá, essas coisas que dizem que existem, mas nunca se viu.
" Apresentar para quê?", num tom: " Tá doida, santa?!"
" Ué?!  Eu cheguei atrasada, então vim me apresentar na secretaria"
" E daí que você se atrasou?"
" Como E DAÍ? Não vai anotar em algum lugar?"
Amados leitores. Sei que estão rolando de rir da minha idiotice, porque a pessoa se APRESENTAR é coisa de idiota. Mas eu já estava condicionada, entenderam, E só tinha dezesseis anos! Tenham misericórdia de mim...
Com cara de " vou chamar o manicômio" ela encerrou dizendo:
" Minha filha - leia-se "doida varrida"- apenas bata à porta da sua sala e peça licença ao professor para entrar. A maioria não se importa com atrasos pequenos."
" Mas não vai ser ANOTADO?"
Ok, agora até eu estou com raiva de mim!
" Não, querida..." Leia-se: Vade retro!
" E fica tudo certo?"
" Fica! Olha, eu tenho que trabalhar e você está perdendo a aula. Vá logo!"
A secretaria ficava no terceiro andar e acho que, naquele dia, eu subi os degraus com a maior felicidade e rapidez que eles já presenciaram.
Parece pouco, não é?! Mas a saída do cárcere é difícil de introjetar....
Para finalizar, naquela "casa", como nos referimos a ela, vivi cinco anos gloriosos. Ali aprendi a ser adulta, descobri que os melhores professores sempre tinham as aulas lotadas- sem o rigor da lista de presença- e os medíocres a passavam três vezes a cada tempo de aula.
Percebi que a liberdade no ambiente estudantil faz você querer ir à aula: sem traumas, sem mãos geladas e sem MEDO.
E os resultados são ótimos. Você aprende que o temor faz as pessoas o obedecerem.
Mas a liberdade.... Ah, a liberdade! Faz crescer o amor e a necessidade de estar naquela "casa", atravessar o seu enorme portão, subir os quatro andares e ser feliz com tudo, até com os velhíssimos elevadores que, não raras vezes, prendiam uns coitados por algumas horas.
Alguns vão comentar: " É o doce sabor da adolescência".
E eu irei retrucar- como de hábito- " Não! É o doce sabor da LIBERDADE!"
Beijos mil,
Adri.

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