terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O poder da palavra

Queridos "Cerejinhas" e "Sundaes".
Depois da tragédia comentada ontem, hoje posto um texto mais ameno e, no entanto, muito significativo: o poder da palavra.
Custei muito a entender este poder e, assumo, li há alguns anos o livro " O Segredo", de Rhonda Byrne. Gostei muito, porém o período de maturação foi lento para criar as raízes necessárias ao tema.
Após algumas observações do cotidiano, fui notando que muito do que é descrito realmente acontece e que o nosso cérebro, melhor, a neurolinguística é poderosa.
Os religiosos vão acrescentar: " Primeiro fez-se o verbo"- presente na Bíblia. E é uma verdade com sentido.
Explico-me: antes de realizarmos qualquer projeto, ele é criado no universo ideal e, ao expormos, torna-se VERBO. A partir daí temos o real início de tudo: da vida na terra- Bíblica- à construção de uma casa ou gestação de um filho.
Tenho um casal de amigos queridos que aguarda, ansioso e feliz, a chegada do Miguel. Para nós, já tem a envergadura de um monarca, então "Dom Miguel".
Parece brincadeira, mas criamos ao redor deste bebê toda uma aura de prosperidade. Ele não nasce "Miguelzinho", "inhozinho", pequeno e atrofiado na sua gene. Ele é um "Dom", com todas as honrarias de um chefe de estado, que estão por aguardá-lo.
Portanto, as palavras criam, sem qualquer dúvida, um campo magnético que ATRAI aquilo que colocamos para fora de nossas bocas. Assim, muita atenção ao que falarmos.
Procurei ser apaziguadora, quando sempre tive temperamento incendiário no DNA. Com um certo adestramento da personalidade- sério, é malhação pesada!- estou conseguindo resultados positivos.
Tento ser menos ansiosa e, a passos lentos, medidos e cansados, estou pouco a pouco conseguindo o meu intento.
Por que, em vez de bênçãos, sorte, felicidade e saúde há pessoas LATRINÁRIAS , de cujas bocas só saem TEMOR, PALAVRAS DE DESESPERANÇA, DOR, SOFRIMENTOS CONTADOS À EXAUSTÃO, DOENÇAS  e por aí se vão.
Não entendo. Realizam um verdadeiro "Mantra de maldição" sobre si mesmas.
" Ai, meu Deus! Não vou conseguir esse emprego". Não vai MESMO! Nem merece, do ponto de vista cósmico. Se você não acredita em VOCÊ, espera que o outro acredite???
" Ai- sempre os "latrinários" vem com um lamento- sinto que este período não vai passar e não vou resistir."
Passar até vai, porque nada é para sempre. Aguentar é discutível...
" Não vou conseguir este valor pelo bem que estou vendendo".
Sem chance! Você já lança uma energia vuduzenta! Mais estranho é que é sobre você ou seu destino.
Descobri que as piores "pragas" partem dos mais próximos, ou de você mesmo. Por quê? Porque TODOS, sem exceção, com o intuito de informar, prevenir ou pôr os seus "pés na realidade" lhe SUGAM a energia da REALIZAÇÃO. E ela tem que ser forte, imbatível e focalizadíssima.
Portanto, conclamo aos amigos leitores da "Cerejinha do Sundae" um protesto:
                     "ABAIXO OS LATRINÁRIOS! VIVA A ENERGIA DO SUCESSO!"
E o sucesso é sem dúvidas. Não hesita, não titubeia. É locomotiva que nos impulsiona.
Que se danem as crises econômicas! Os seres humanos sempre sobreviverão à elas.
Melhor esclarecendo: os latrinários cairão em combate! Mas eles não farão a menor falta!
Beijos mil a todos os maravilhosos leitores, sempre alto astral, cheios de sucesso e abençoados,
Adri.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O beijo da tragédia

Hoje a "Cerejinha do Sundae" está em luto e desconcertada.
O motivo do título é o nome da boate onde ocorreu a segunda maior tragédia, por incêndio, no Brasil: KISS.
Seria irônico se não fosse trágico...
O "Beijo" da morte na cidade de Santa Maria, no estado do Rio Grande do Sul.
O número assustador:  mais de 234 vítimas fatais.
Acompanhamos, durante o domingo, todas as matérias a respeito do fato.
E sabem o que mais me afetou? Fui frequentadora de boates na minha adolescência e na fase de jovem adulta, ou seja, a exata idade dos envolvidos. Acreditem, em qualquer lugar no mundo, elas são "armadilhas" e ninguém modifica NADA!
São prédios, mais ou menos elegantes, com duas coisas em comum: saídas estreitas e seguranças treinados para impedir a saída. O dono do estabelecimento não pode levar um "calote", no caso de um incêndio ser controlado, sem maiores danos.
"Roleta Russa", meus amigos. Já fui à diversas delas e chegava à casa dizendo para minha mãe:" não retorno! Parece uma arapuca!"
Tetos rebaixados com isolamento acústico- Leia-se: mantas, isopor e outros materiais- fios por toda a parte, spots e luzes de todas as formas e cores, madeiras, poucos extintores (quando há), TUDO para compor uma cena dramática.
Como não são constantes, os governos, enquanto entidades fiscalizadoras, deixam "passar" e continuamos criando gerações com aceitação da catástrofe anunciada.
Sinto-me irritada! Poderia ser evitado e teríamos mais de duzentos universitários vivos, produzindo e felizes.
Pensem no efeito multiplicador: para cada vítima, há pais, amigos e toda uma gama de pessoas que JAMAIS esquecerão a tragédia, mesmo que a mídia e nós a esqueçamos.
Enfim, estes rapazes e moças há pouco tempo estavam procurando seus nomes nas listas de aprovados das onze universidades existentes na cidade de Santa Maria. Hoje os seus nomes constam, novamente, de uma lista. Mórbida...
Sabemos que a boate estava sem o alvará de funcionamento e que esteve fechada há quinze dias.
O que houve para reabri-la? Quem assinou isso?
Não me venham as autoridades alegar o famoso "vamos apurar". Aqui não se apura. Espera-se ser substituída por outra tragédia ou escândalo. E a mídia vai voltar as suas lentes para uma nova perspectiva, e o incêndio permanecerá em "escombros" morais.
IMORAIS!
Quanto às famílias, o meu pesar, as minhas orações e o desejo de força para continuar vivendo.
Porque, na minha humilde opinião, não existe dor maior do que a de enterrar um filho. Pior quando estava saudável, sem motivo aparente para o advento MORTE.
Desculpem-me o amargor e irritação. Utilizo-me, em nome de todos nós, deste site para demonstrar a minha INDIGNAÇÃO quanto às obscenidades  a que somos submetidos. E a dor de quem já teve 18, 20 anos e se sentiu, um pouco, no lugar de cada um deles.
Um minuto de silêncio...
Adriana Andollini.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A maratona da Valquíria

Domingo.
Ariclênio  afundado no sofá, com aquele pijama que nem o mendigo aceitou, estava lendo no jornal a vergonha do seu time (" Perdeu de oito! Com o que eles ganham, até a tia Cotoca fazia um gol!"- pensava ele, inconformado)  quando viu Valquíria passar nua, com a pressa dos noivos em noite de núpcias, na direção do quarto de hóspedes.
Primeiro, pensou consigo: " Deve ser barata", e continuou a leitura, desta vez calculando a quantos anos seria condenado se matasse o time inteiro.
Repentinamente observou que havia silêncio e, em quarenta anos de casados, Valquíria nunca conseguiu abater um inseto sem os famosos gritos de: "morra, seu monstro, morra!", ou ainda " Hasta la vista baby", acompanhados de chineladas, vassouradas, inseticidas, bombas nucleares, enfim, o que Valquíria achasse pela frente.
O silêncio é acompanhado da corrida de retorno ao quarto do casal, com Valquíria carregando nas mãos os lápis de cor do neto.
Munido de uma curiosidade cafajeste, largou a vergonha do seu time sobre a mesa de centro e foi para o quarto do casal. Afinal de contas, pensou Ariclênio, a reputação da família estava em jogo: "E se algum vizinho visse aquilo". 
Pior:" Se filmasse e pusesse no You Tube".
Não! Antes fecharia as cortinas. Era mais prudente para evitar a "Maratona da Valquíria" espalhada no mundo.
Ao fechar as cortinas, para o azar dele, teve que cumprimentar dois vizinhos, de uma só vez, e foi tomado de pânico: "Será que os vizinhos estavam ali para ver a Valquíria? Será que ela já fazia isso há muito tempo e eu não sabia? Seriam seus amantes esperando um sinal?".  E o bom dia saiu ardido da sua boca.
Sentiu o corpo estremecer de ódio. A vergonha do time, a maratona da Valquíria, os vizinhos -muita coincidência!- passando naquele EXATO momento. Tudo fazia sentido!
Ouviu passinhos rápidos. 
Valquíria, peladona, correndo novamente para retornar com a caixa de giz de cera da neta.
Blam!  A "pelada" bateu a porta do quarto,  aquele de tantas noites de amor entre a " Ursinha" e o "Arizinho" (ai, esses apelidos ridículos, que só fazem sentido para o casal...).
Era demais para o seu coração com quatro pontes de safena. Passos firmes em direção ao palco da sua traição, iria tirar a situação a limpo. Ela teria que explicar tudo, tudinho mesmo, até a derrota do seu time!
Abriu a porta num sopetão e viu a cena impiedosa: Valquíria nua, diante do espelho, braços para cima e, embaixo de cada seio, os lápis de cor e os gizes de cera dos netos. Debulhava-se em lágrimas.  Aquele choro de alma, que faz uma pessoa ficar com o rosto esbofeteado.
"Cruzes, mulher!", arrepiou-se todo.
Ariclênio lembrou-se de Dona Esperança. 
Era criança, devia ter uns seis, sete anos de idade, quando a vizinhança, também num domingo, foi acordada pela sirene de uma ambulância. Àquela época, correu para a porta de casa, junto com os pais e seus dois irmãos -"Jesus! Além de ser domingo, também estava de pijama!"- e viu a cena: Dona Esperança, numa camisa de força, sendo carregada por dois homens imensos para dentro da ambulância. Gritava a plenos pulmões: "Sou Maria Antonieta! Sou Maria Antonieta!".
"Seria o caso de Valquíria, meu Deus?". 
Tremendo-se todo, como quem vê assombração, aproximou-se da esposa e bem baixinho perguntou se ela estava bem - Já repararam como tem gente que fala qualquer coisa em situações críticas? Vai a um enterro e pergunta para a viúva: " Como vai, Dona Fulana? Tudo bem?"
Subitamente o choro parou. Ariclênio sentiu que precisava de uma cueca limpa enquanto Valquíria, olhos flamejantes, sentenciou: EU EXIJO UMA PLÁSTICA!
"Claro, meu amor! Tudo que você quiser, querida!", tentando sair do quarto de mansinho. Valquíria o observou como quem observa uma presa e disse, aos berros: " Ariclênio, EU EXIJO UMA PLÁSTICA JÁ!".

" Mas, meu amorzinho, hoje é domingo. Amanh...", não conseguiu terminar a frase. Valquíria retirou o que havia embaixo dos seios, abaixou os braços e foi para perto do marido.

Ariclênio, bem mais alto que a esposa, sentiu-se um anão diante de tamanha decisão.

E, olhando nos olhos, a pobre mulher explicou que, como de costume, foi à padaria do seu Aníbal comprar o de sempre.  Passou no jornaleiro, pagou o jornal  e uma revista feminina.  Dessas bem cretinas que dizem " Saiba a dieta da atriz tal, que perdeu 10 quilos em dois dias!" .
Continuando-  ensinando testes para saber se você ainda estava sedutora. 
Valquíria fez todos eles e o último foi o do seio: "Coloque um lápis, sob o seio". 
Caso o lápis ficasse preso... O seio já era.
Achou então que entendera, mal, que deveriam ser VÁRIOS lápis. 
Todos ficaram presos.
Pensou: " Hoje em dia esses lápis são muito finos, ainda mais os de cor" (para acabarem mais rápido- criança, né?!) e pegou os de cera, mais parrudos, que também ficaram lá, terminando a frase novamente em prantos, com o Ariclênio acocorado, próximo à porta, sem entender nada.
Enfim, queria uma plástica nos seios, para implantar silicone. Lipo na barriga, culotes, pernas, braços e coxas, retirar as bolsas de gordura sob os olhos e dar uma "puxadinha" na papada.
Ariclênio, "sabiamente", com aquela psicologia que só os homens têm, retrucou: " Pô, Val! Você precisa é de uma centrífuga", soltando um risinho depois.
Pronto. Quebra pau, discussão e, no dia seguinte, o segundo carro do casal foi vendido para custear a "maratona".
Exames, operação em etapas, pós-operatório e o Ariclênio lá, amuado, vendo a mulher da sua vida se transformar em outra: "Tá toda roxa", dizia aos amigos que perguntavam.
Valquíria rejuvenesceu, criou alma nova. Começou a malhar, virou loura, exigiu empregada. Agora seria uma "outra mulher", dizia às amigas.
Claro que, de boba ela não tinha nada,  tratou de contratar uma empregada gorda, barriguda, peito caído e sem dois dentes: um em cima e o outro, embaixo.
Certo dia, quando Valquíria retornava da academia, ouviu sussuros e gemidos vindos do quarto da empregada.
"Eu a avisei que não admito homem aqui dentro.  Que vá a um Motel!"
Ao entrar, viu a cena que a estremeceu: Ariclênio nu, sobre a empregada (claro que nua), com os lápis e gizes dos netos sob os seios da coitada.
Valquíria perdeu o comando do corpo sarado e grudou na parede. No seu silêncio, nada entendeu. "Ariclênio, seu covarde! Eu passo por tudo isso para você me trair com ELA!" - um ar de desprezo na voz.
E Ariclênio, ofegante, lágrimas aos olhos, esclarece: " Val, meu amor, eu não traí você. Eu estou aqui porque tenho saudades de você. Para me lembrar de VOCÊ".
O Ministério da Cerejinha do Sundae adverte: Cuidado para que, na sua "maratona", você não deixe de ser VOCÊ.
Beijos mil.
Adri.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O número mágico: três mil acessos!

A "Cerejinha do Sundae" começou como um blog gratuito, onde a caixa de comentários não funcionava - nem com reza forte!- e o único recurso que havia eram letrinhas cor de rosa.
Muitos leitores reclamaram do pink, porque é péssimo para a leitura, eu admito. Mas o que fazer?
Nada havia para associar os textos ao título do blog. Vermelho seria bem pior, não é?!
Enfim, de outubro para cá, mesmo com os tropeços comuns ao início de todo empreendimento, brindamos juntos os mil acessos, o final do ano de 2012, vimos a chegada de 2013 e estamos na colheita generosa: três mil acessos dos meus "Cerejinhas" e "Sundaes".
E tudo começou com " A Sogra", vejam só... Até que a sogra teve o seu ponto positivo!
Hoje, com um site bacaninha, onde fui desenvolvendo textos de estilos diversos - e aprendi que é SUPER complicado- muitos incentivos da minha mãe, marido e amigos, chegamos juntos ao novo número mágico.
Deixe-me esclarecer. Quando fiz o blog cacareco, tinha em mente CEM ACESSOS. Poxa, já seria demais!
Quando a mágica aconteceu, pensei: trezentos! Depois fui ficando sem vergonha, ambiciosa mesmo!
E, sempre com vocês e POR VOCÊS, fui aumentando as minhas metas - e minhas fronteiras.
Até crise de criatividade eu sofri. Pode?! Uma amadora com "crise"...
Explico: voltei de Búzios tão, mas tão relaxada que o cérebro tinha água de coco!
Quando o trabalho retornou, a crise passou em dois palitos. Por que será?!
Agora que estamos juntinhos, inseparáveis - eu espero!- vamos em frente, esperando que vocês interajam mais comigo. Enviem temas, sugestões, qualquer coisa que desejem ler no nosso site.
Porque não nos vemos. Mas eu sinto todos junto a mim.
E é ótimo, como uma mantinha fofa e confortável.
Beijos e parabéns a NÓS!
Adriana Andollini.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Que mulheres são essas?

Pesquei esta imagem no google- o que seríamos sem ele?!- e fiquei ressentida.
Sou mulher, vivo no século XXI, "filha" da geração que queimou os sutiãs, decidiu tomar a pílula anticoncepcional e ter filhos-ou não- quando quisesse.
Pior: se quisesse e com quem desejasse.
Até aí, ótimo. Conheci, há alguns meses, uma senhorinha que possuía o registro na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) com número baixíssimo. Imediatamente meus olhos marejaram, porque foram mulheres como ela que permitiram a mulheres do futuro, como eu, cursar Direito, eminentemente masculino, à época dela.
Quase procedi a um interrogatório, tamanha a minha comoção.
Não sei se vocês me entendem, mas cala fundo ao meu coração TODOS os desbravadores, de qualquer caminho. E é uma dádiva encontrar um deles durante a sua vida, podendo sorver, ávidamente, o que tiverem a contar, a acrescentar.
Tenho uma nostalgia de tempos idos. Um "algo" que nunca soube explicar, mas que sempre me foi íntimo, como a primeira greve de mulheres, tecelãs, pedindo condições de trabalho HUMANAS e foram trancadas no galpão e incendiadas. Mudaram o mundo. Preço: suas vidas.
Prosseguindo, os belos olhos azuis me acolheram e às minhas perguntas. Eu beijei as suas mãos evelhecidas e a agradeci: " Sem a senhora, eu não estaria aqui". E no silêncio de uma lady guerreira, assentiu com os olhos agradecida e se foi, sem olhar para trás.
Por que desta história?
Porque me insulta, como mulher, sentir que a "poderosa" de hoje copiou o poder mal exercido pelos homens. Elas - e digo isto porque não pertenço a este "clube"- necessitam, como na imagem acima, a escravidão, a submissão, a inferioridade tal e qual os homens de outrora, os senhores feudais, os Barões do Café, os déspotas de todos os gêneros e tipos.
Por que não podemos desenvolver um poder feminino ultra fresh, pink, arteiro e divertido, com saias rodadas e perfumes franceses? Porque é tão difícil, à mulher moderna que adquire o poder, ENTENDER que os homens, de maior ou menor capacidades financeira ou intelectual, podem e DEVEM ser parceiros, amigos e, principalmente, SEDUZIDOS? Olhos fixados em nosso universo diverso do deles e, por isso, devastadoramente atraente.
A mulher- perdoem-me as feministas- não é nem nunca será igual aos homens! Temos DIREITOS IGUAIS, mas somos diferentes nos contornos dos corpos, no pensamento sinuoso e repleto de presságios que somente o útero é capaz de gerar, mesmo que um dia ele deixe de habitar o seu corpo.
Nós, mulheres modernas, usamos sutiãs lindos, com rendas de todas as cores! Não os queimamos, até porque são caríssimos!!!
Somos poderosas num sorriso, no gingar dos quadris, no argumento bem colocado, com inteligência. Jamais com temor. O soco no tampo da mesa, imagem imemorial, é tão primitivo quanto expulsório.
Não conheço uma viva alma que relembre uma cena assim e admire o "poderoso". Ele o teme e porque o teme de tal forma quer FUGIR.
Portanto,  a imagem do homem de cabeça baixa amarrado a um salto altíssimo de uma mulher, metaforicamente, imensa, me horroriza.
Ainda bem que, com uma imagem, nos dá margem ao raciocínio crítico.
Claro que muitas pessoas vão discordar de tudo e outras, vão adorar o post.
No entanto, a cutucada já foi feita.
E viva o poder feminino ultra fresh, cheio de batom, repleto de unhas todos os matizes e, principalmente, com a mão dada ao seu par, seja ele qual for.
Porque aquele que conhece a sua força não precisa fazer alarde.
Beijos mil, de uma mulher ultra fresh, que prefere unhas escuras,
Adri.

domingo, 20 de janeiro de 2013

O poder da ousadia

Queridos "Cerejinhas" e "Sundaes".

Assisti dois filmes que me motivaram a postar sobre o assunto: OUSADIA.
Fui pouco- leia-se, quase nada- ousada na infância e, aos poucos, com o passar dos anos, descobri o poder da ousadia.
Sim, quem a detém tem o poder. Um poder quase absoluto, que é capaz de girar o mundo nas próprias mãos, como se fosse um peão.
Deixe-me explicar o ponto nodal da questão: quando se é ousado, traz-se à luz a IMPREVISIBILIDADE. Juntas elas são nitroglicerina pura! Pena que poucos reconheçam isso...
Eu levei anos, que se arrastaram como séculos, para observar o que vocês dirão, neste momento, óbvio!
Claro que o é. Assim é o mundo! O óbvio nunca é visto de primeira e ficamos presos às teias do sistema.
Há pouquíssimos dias, durante uma visita, discutíamos sobre a quebra do "sistema" e o meu interlocutor  recusava-se a achar possível a quebra em si, porque os sistemas são, apenas, substituídos por outros. É verdade. Porém, não é absoluta!
Porque qualquer "sistema" é açoitado de dentro para fora. Quando a sociedade o externa, a grande massa já sentiu a sua necessidade e o ATIVOU. Daí termos o NOVO.
Simples, não?! Assim foram com todos os movimentos do mundo. Só para ilustrar,  durante e após a Segunda Guerra Mundial, houve um "baby boom", uma quantidade enorme de mulheres grávidas.
Por quê?! Pela necessidade do NOVO e o novo, naquele caso, era a VIDA.
O movimento "hippie", com o "faça amor, não faça guerra" e o " paz e amor" foram reações à guerra do Vietnã, que se arrastava em fracassos por parte dos que a alimentaram.
E o que veio depois? Os "Yuppies", na década de 80 com a incrível necessidade de ganhar fortunas, antes dos trinta anos. Por que seria???
Claro que os sistemas voltam a ser organizados. Mas sempre é bom sentir o frescor da novidade, mesmo que seja para declinarmos a "dança" e arranjarmos um novo "par".
Bom, e a ousadia, ? Onde entra nesta história toda?
É que estou enamorada por ela, por sair da "casinha", como costumo dizer e voltar ao meu sistema original, aquilo para o qual fui gerada. Ativei o meu chip central. Eu sou isso, NÃO quero aquilo e, maravilhosamente para os perversos que abundam no mundo: NÃO É NÃO! Sem mais, sem  explicações.
É o gado que levanta a cabeça e expande os horizontes. Já observaram os rebanhos?
Somos bem parecidos socialmente.
Levantemos as cabeças! Vejamos quão largo são os nossos ILIMITES!
Quanto de vida há para se viver e quanto de nós, da nossa ousadia e imprevisibilidade, se perdeu no caminho.
Em Búzios, no final do ano passado, me peguei pulando na piscina, como fazia na infância. Senti a dor da entrada na água quando não se mergulha e sim, se arremessa o corpo contra a água.
Fui passear de veleiro e subi/desci dele numa escadinha suspeita como mordomo em filme de terceira. Não pensei em tétano, que seria o meu normal.
Para os que não me conhecem, explico: leio bula de remédio e não perco uma reportagem sobre doenças. Hipocondríaca? Nunca.
Previdente. Por quê? Não confio em médicos e sempre é bom saber o suficiente para impresioná-los e fazê-los pensar sobre o seu REAL ESTADO DE SAÚDE.
Voltando ao assunto, hoje joguei fliperama/ Pinball pela primeira vez- " CONGO"- enquanto aguardava a sessão do cinema.
Joguei algumas vezes e me tornei ótima. Sou ávida por jogos!
Acabando o filme, corremos (o marido também adora!) para o local e, pasmem, após uma situação engraçada- para mim- desafiei um moleque de uns dez/doze anos para jogar. Estimulei o menino, mas ganhei!
O prazer de ganhar não foi nada, sinceramente, porque o que eu gosto é da fronteira transposta. Muito bom MESMO foi ter desafiado um moleque de doze anos- e o amigo dele- como se EU tivesse doze anos.
Sendo que, nos meu doze anos, eu JAMAIS teria esta OUSADIA. E era mal vista a menina que frequentasse esses lugares.
E foi tudo repentino. Tanto que o meu marido levou um jantar inteirinho para absorver a situação. Ele foi um espectador de uma mulher a qual AINDA não havia sido apresentado totalmente.
Não nesse nível de ousadia e imprevisibilidade!
E eu, sem qualquer orgulho, me senti eu mesma, plena, satisfeita. Ou talvez a minha criança interior tenha tido espaço na minha vida novamente e, como qualquer criança, tenha soltado uma gargalhada gostosa, lambuzada com pirulitos e balinhas de todos os sabores, reverberando pela minha alma.
E foi bom. E será MELHOR!
Que a ousadia nos guie, criando novos sistemas e tendo a coragem de quebrá-los, sempre que for necessário. Ao menos para nós!
Beijos indecorasamente infantis a todos,
para as crianças que habitam cada um de vocês, esperando apenas por um pouco de
                              O  U   S  A  D  I  A!!!!
Adri.
Ou : Zilda, Edwiges, Verônica, Ana Claúdia, Marli, Alba Valéria.
Marias: dos Prazeres, de Fátima, Lúcia, Cláudia, Elisabete, José.
Carminda, Vanessa, Isabella, Jandira, Cátia, Cristina, Claúdia Valéria, Karine, Kamila, Carol, Tereza, Patrícia, Betina, Tereza Cristina, Gilda, Luana, Ana Paula, Elis e todas as mulheres que, de alguma forma, habitam em mim.


sábado, 19 de janeiro de 2013

Perdemos Walmor Chagas

Hoje a "Cerejinha do Sundae" está em luto.
Perdemos um dos maiores atores que o Brasil já teve: Walmor Chagas.
Junto com ele são levados vários personagens a quem emprestou o talento, o belo porte, o tom de voz inconfundível e todas as histórias que majestosamente ajudou a contar.
Escolhi a imagem que mais me comove, a de Dom Afonso da Maia, na minissérie " Os Maias", produzida pela Rede Globo de Televisão, adaptada do romance homônimo do gênio Eça de Queiroz.
E por que a escolhi?
Porque a minha história foi permeada por este romance. Eu o recebi dos meus tios, que moram até hoje em Portugal, numa edição primorosa em capa dura vermelha e adornos dourados, aos oito anos de idade. Leitora ávida desde pequena, tomei o livro com uma paixão e não consegui lê-lo.
Trama densa para a pouca idade desta leitora, à época.
Anos mais tarde, por volta dos meus dezesseis anos, embarquei no enredo bem construído e temática, ainda hoje, mal vista: a do romance incestuoso entre Carlos Eduardo da Maia e Maria Eduarda da Maia. Como Eça era extremamente descritivo, tanto na ambientação, quanto nos personagens, quase que eram palpáveis para mim e sempre imaginei, no papel do patriarca, Walmor Chagas.
Até que, felizmente surgiu a minissérie e quem estava lá, no papel de Dom Afonso: ele, com a sua elegância de cavalheiro de velhas épocas, Walmor Chagas.
Quando hoje, tantos anos depois, recebi pela televisão a notícia do seu falecimento, me arrepiei toda.
Senti como um amigo querido partindo, sem dizer adeus. Súbito. Doído.
Acrescente-se ao ator incomparável a enorme admiração pela história do homem Walmor. Foi casado com a maravilhosa atriz, Cacilda Becker que, lamentavelmente, nada pude ver por ter falecido abruptamente, num intervalo de uma peça, antes mesmo de eu nascer. Mas o amor deles foi tão intenso que o fez, dignamente, narrar em todas as entrevistas, que apenas sobreviveu para criar a filha, fruto deste amor.
Mas o seu/dele coração havia se fechado e Cacilda levara consigo, mesmo sem querer, a chave.
Então, para aqueles que não acreditam no amor, mirem-se neste exemplo, oriundo de um HOMEM.
E, para os que como eu, sofrem a perda de um grande ator e pessoa, os mais sinceros sentimentos.
Um minuto de silêncio... E uma vida de saudades!
Vá com Deus, querido Walmor Chagas e que na passagem você encontre a sua querida Cacilda, lhe tome aos braços e dê o beijo tão aguardado, como nos grandes romances.
Para nós restará sempre uma enorme...SAUDADE.
Adriana Andollini.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O primeiro dia de aula

Eu fui aluna de colégios extremamente exigentes. Daqueles dos quais saíram os grandes ditadores!
Melhor que isso: Compraram os colégios! E lá estava euzinha.
Não reclamo, porque tudo que aprendi foi graças... ao MEU ESFORÇO!
Dito isto, vou tentar explicar. O cólegio, por mais famoso que seja, com o melhor corpo docente possível e imaginável, só vai para as cabeças, nos concursos, graças ao esforço de cada aluninho, que consiga sobreviver à pressão.
Assim foi com a minha mãe, comigo e com todas as gerações que estão por vir.
Mas o que isto importa?
Sim, porque influenciou a minha vida e gerou a história que narrarei. E, acreditem, ACONTECEU!
Prosseguindo, na escola onde cursei o segundo grau- não mencionarei o nome porque nunca nos deram qualquer abatimento na mensalidade, hum!- a ordem era: Atraso é anotado na caderneta e, no terceiro do mês, volta para casa.
Aí, meus queridos leitores, vocês vão pensar: Ela é de mil novecentos e bolinha!
Não mesmo! O rigor era rançoso. Eu não!
Prosseguindo, houve um dia no qual o busão ( tradução: ônibus) enguiçou e nós ficamos retidos, aguardando o próximo. Era um ônibus de linha, normal, sendo que, naquele horário de 06:45h era quase um "fretamento" de alunos, porque era o ÚNICO que deixava o pessoal próximo ao colégio.
Afinal, esse colégio ficava na floresta Amazônica?
Não!  Por incrível que pareça, continua sendo a ÚNICA LINHA- até hoje.
Bom, chegamos atrasados trinta segundos - eu disse trinta SEGUNDOS- confirmados no relojão que horrorosamente ornava o início da escadaria.
Fomos impedidos de entrar em sala. Desespero geral, os inspetores com um prazer quase sexual carimbando as cadernetas com "ATRASO" e eu, quase aos prantos -eu tinha quatorze anos, peguem leve!- tentando dissuadir o inspetor, um coroa chamado Beto.
Cá entre nós, eu não me recordo do nome, mas sei que não era Roberto, Alberto, Eriberto, nada assim.
Tava mais para Ariosvaldo...
" Beto, são trinta segundos e eu acho que esse relógio está adiantado"
" Adriana, ordens são ordens!"
" Beto, pelo amor de Deus. O ônibus quebrou e....".  Bem, lá fui eu contando o drama da manhã e implorando para que houvesse a liberação dos alunos para as salas.
O Beto, em questão, pouco se deu com os apelos. Era a instância máxima - e gostava de sê-la- naqueles casos e tascou carimbada nos "atrasados".
Ah, esqueci de acrescentar:  o colégio aplicava provas em TODOS os sábados do ano, exigindo média sete para aprovação imediata. Recuperação: no máximo em três matérias.
E você já estaria acabado, se fosse em uma, apenas.
Então, para completar, qualquer tempo de aula que se perdesse era sinônimo de guilhotina.
" Beto, o tempo que vamos aguardar fora nos é negado o ensino. Isso é antiproducente!"
Ai, gente! Eu já gostava das grandes pelejas! Fofo!
E, afinal, perdi. Foram uns quarenta alunos, mais ou menos, aguardando cinquenta minutos fora de sala, por um atraso de trinta SEGUNDOS.
Sobrevivi ao campo de concentração e fui aprovada na concorridíssima UFRJ. Direito.
Logo no primeiro dia de aula EU ME ATRASEI QUINZE MINUTOS!
Sério?! Pior  que foi, gente.
Em desespero, procurei a secretaria e aí se dá a nossa real história real.
" Por favor...", já com a cabeça baixa, esperando o carimbaço.
"Sim...", por detrás do vidro uma mulher no esquema mal amada, rancorosa, amarga e por aí vai, que me lançou um olhar como se eu fosse...estrume.
Bonito. ESTRUME. Estou sendo educada com vocês, ok?!
" Eu vim me apresentar..."
A mulher olhou para mim como se olha um E.T, um Unicórnio, a Medusa, sei lá, essas coisas que dizem que existem, mas nunca se viu.
" Apresentar para quê?", num tom: " Tá doida, santa?!"
" Ué?!  Eu cheguei atrasada, então vim me apresentar na secretaria"
" E daí que você se atrasou?"
" Como E DAÍ? Não vai anotar em algum lugar?"
Amados leitores. Sei que estão rolando de rir da minha idiotice, porque a pessoa se APRESENTAR é coisa de idiota. Mas eu já estava condicionada, entenderam, E só tinha dezesseis anos! Tenham misericórdia de mim...
Com cara de " vou chamar o manicômio" ela encerrou dizendo:
" Minha filha - leia-se "doida varrida"- apenas bata à porta da sua sala e peça licença ao professor para entrar. A maioria não se importa com atrasos pequenos."
" Mas não vai ser ANOTADO?"
Ok, agora até eu estou com raiva de mim!
" Não, querida..." Leia-se: Vade retro!
" E fica tudo certo?"
" Fica! Olha, eu tenho que trabalhar e você está perdendo a aula. Vá logo!"
A secretaria ficava no terceiro andar e acho que, naquele dia, eu subi os degraus com a maior felicidade e rapidez que eles já presenciaram.
Parece pouco, não é?! Mas a saída do cárcere é difícil de introjetar....
Para finalizar, naquela "casa", como nos referimos a ela, vivi cinco anos gloriosos. Ali aprendi a ser adulta, descobri que os melhores professores sempre tinham as aulas lotadas- sem o rigor da lista de presença- e os medíocres a passavam três vezes a cada tempo de aula.
Percebi que a liberdade no ambiente estudantil faz você querer ir à aula: sem traumas, sem mãos geladas e sem MEDO.
E os resultados são ótimos. Você aprende que o temor faz as pessoas o obedecerem.
Mas a liberdade.... Ah, a liberdade! Faz crescer o amor e a necessidade de estar naquela "casa", atravessar o seu enorme portão, subir os quatro andares e ser feliz com tudo, até com os velhíssimos elevadores que, não raras vezes, prendiam uns coitados por algumas horas.
Alguns vão comentar: " É o doce sabor da adolescência".
E eu irei retrucar- como de hábito- " Não! É o doce sabor da LIBERDADE!"
Beijos mil,
Adri.

A árvore dos sonhos

Paulo era um homem cético. Ateu, graças a Deus, dizia ele.
Operava no mercado de ações e era próspero.
Nunca precisou pedir nada a ninguém e se orgulhava disso. Uma lástima como ser humano.
Oco. Inóspito. Sem raízes.
Mas, por um desses caminhos tortuosos que a vida nos impõe, incluindo Paulo, teve que fazer uma viagem de negócios à China e lá tudo deu errado desde o início.
Bom, sob o ponto de vista dele, é claro.
Chegou a Beijing- nome correto da capital, segundo a minha amiga que lá esteve- e suas bagagens não chegaram. Haviam, estranhamente, desembarcado em Paris, numa conexão rápida.
O hotel reservado era razoável e o mau humor era óbvio.
Foi antes da data do compromisso para visitar uns pontos turísticos e aproveitar o tempo. Tudo sem qualquer motivação. Indo por ir.
Máquina profissional, objetiva de 5 milhões de metros - sabem, aquelas que de tão grandes se tornam ridículas nas ruas- e lá se foi o Paulo, visitar a Cidade Proibida, os Templos Budistas- recusando-se a acender um incenso sequer- o barco esculpido em mármore a mando de uma imperatriz viúva- e, cá entre nós, doidona!- e chegou à Muralha da China.
Sentiu-se miúdo diante daquele colosso. Saiu rapidamente, porque a sensação de diminuição não lhe era familiar.
Tirou umas fotos. Postou no face.
Resolveu experimentar o pato colado, no restaurante mais requintado do país. Aprovou com um tom blasé.
Parou numa lojinha, daquelas bem antigas, de medicina oriental e um chinês, com uns trezentos anos de vida, sugeriu ao Paulo uma massagem porque "Ele muito tenso".
Ah! Já ia esquecendo. "Paulinho" era um prodígio. Falava sete idiomas, incluindo o Mandarim.
Se existisse curso de Etrusco clásssico ele correria para aprender- argh! Praia e festa nem pensar...
Meio a contragosto deitou-se na maca pequena- o "resplandescente" era obeso- e recebeu os toques mágicos. Nada aconteceu.
O mesmo sábio chinês sugeriu que o viajante fosse a uma província, um pouco distante, mas que seria a sua salvação.
" Salvação? Chinês maluco! Eu sou bem sucedido. Que mais que ele quer? Ele é que é um fud.." interrompendo a frase quando percebeu um grupo de brasileiros por perto.
Mas, alguma coisa no Paulo o arrastava até aquele destino exótico. Ficou ofendido com a "salvação".
Foi até lá, conhecer o "lugar mágico".
Quando saiu do ônibus, pequeno, pobre e apertado, deparou-se com um vilarejo. Casas baixinhas, uma escola feita pelos moradores, um poço - toda cidade chinesa tem um poço. É o que há de mais estável, segundo o I Ching- e uma longa estrada em terra batida, que ao longe levava a uma árvore frondosa.
Bom, procurou um hotel.
Caros leitores. Esse sujeito é um sem noção... Esperava uma filial do Hilton?
Prosseguindo, conseguiu alojamento com a família do professsor da aldeia, que ouviu a história do próspero homem que necessitava de salvação. E se comoveu.
Serviram uma tijela com uma espécie de sopa de macarrão e Paulo foi dormir.
Um custo. Precisava de uma TV de LED, porque o silêncio o incomodava. Um ar condicionado, porque já era habituado e várias outras traquitanas supérfluas. O chinês se limitou a dizer que não as tinha e foi dormir com a família.
Paulo levantou-se e abriu a janela. Pela primeira vez em muitos anos vira a lua. Linda, cheia, amarela como uma gema. Sentiu o vento no rosto com todos aqueles aromas exóticos e temeu por um resfriado. Fechou a janela e tentou dormir.
Sério, estou ficando enojada com este homem. Vocês querem que eu continue?
Ok, só porque vocês pediram...
O dia amanheceu e o chato mal havia dormido. Serviram o café da manhã típico e o professor resolveu caminhar com Paulo pela tal estrada que eu contei, até a árvore.
Na ansiedade, o viajante necessitava de muitas respostas, mas o chinês permanecia calado.
Ao chegarem, o mestre da pequenina escola explicou-lhe:
"Esta é a árvore dos sonhos e irá solucionar TODOS os seus problemas."
"Sério?!", com um ar de ironia, replicou: " Poderia dar um jeitão na crise global... E tudo nesta árvore. Porque os chefes de Estado não vieram aqui antes?", gargalhando com seus trinta e dois dentes clareados pela minha prima Patrícia- bom, ela tem que ganhar o sustento...
O chinês, calmamente, abaixou a cabeça e iniciou o caminho de volta, deixando Paulo lá, estático diante da árvore.
No dia seguinte- e só no dia seguinte!- o hóspede pediu desculpas pelo ocorrido e foram aceitas com um mero aceno de cabeça, durante o desjejum e com a família em silêncio.
Perguntou, então, como a árvore realizava os sonhos e o professor que o hospedava limitou-se a esclarecer: escreva num pedaço de papel, pense bem forte e pendure entre os galhos"
" Só?!", soltando uma gargalhada constrangedora.
Sério, se fosse comigo eu colocava este Paulo porta a fora, levando uma sova com rabo de tatu (tem tatu na China?).
Continuando, o hóspede foi até a árvore. Sentiu-se esquizofrênico por conversr com uma árvore e começou o discurso: " Senhora... senhorita... Bom, você, árvore dos sonhos, sabe que eu tenho tudo na vida. Sou bem sucedido e, sem me gabar, vim aqui a negócios. Portanto, estou muito bem mesmo.
Tenho um triplex diante da melhor praia, um carrão esporte e um SUV para a casa do lago. Bem, geralmente estou só, mas é porque quero. Gente me desconcentra, sabe, fala muito. Mulheres... Bem, com dinheiro compra-se até amor!", rindo o riso de uma hiena. " Não tenho filhos porque não suporto crianças. Riem muito. Fazem barulho e perguntam demais. Animais também não. Prendem a gente e eu viajo muito, graças a Deus!"
Peraí! Este pulha não é ateu?! Enfim...
Depois de DUAS horas de conversê com a árvore, fez o caminho de volta à casa do professor.
Lavou-se no poço e observou a vida daquele lugar. Tudo muito simples. Meninas com tranças, usando casacos rosa, azuis, uns sapatinhos diferentes. E carregavam água nos baldes!
Aí ele se deu conta que o banho e a comida tinham alguém para carregar a SUA água.
Quando chegou, decidiu que esta seria uma tarefa sua, já que estava sendo hospedado e nada pagava. O professor assentiu.
Assim foi feito, pela manhã e bem cedo. Depois, ao final do dia. E os dias foram passando e o Paulo simplesmente se esqueceu da reunião.
Todos os dias ia fazer "análise" com a árvore- a coitadinha nem recebia por isso!- e colocou o seu primeiro papel.  À distância, o anfitrião observava e sorriu.
Passou a ter rotina: Acordava, buscava água no poço para toda a família, percorria a aldeia e cumprimentava os moradores, ia até a árvore e voltava, pegando a água para a noite. Jantava sem queixumes e dormia. Pela primeira vez sem usar remédios.
E assim se passaram duas semanas.
Num belo dia de sol a árvore floresceu, anunciando o início da primavera.
O anfitrião explicou-lhe que era auspicioso e que todos os desejos seriam atendidos. Paulo, solenemente, curvou-se diante do pequenino homem e respondeu: " Já os foram, meu amigo. Honrada casa que me acolheu, eu agradeço."
Juntou suas coisas, deixou uma enorme quantia para a reforma da escola local e partiu.
Ao chegar a Beijing, seus amigos estavam em alvoroço, a polícia no seu encalço e ele apenas relatou: " Fui buscar a minha salvação na árvore dos sonhos".
Largou os negócios, casou-se com a sua governanta e moram hoje numa casinha, estilo pescador, no litoral brasileiro.
Ah, já ia me esquecendo: Claro que cercados por seis lindos filhos, vindos no outono das suas existências.
Todos adotados.
Um de cada continente e o caçula, brasileiro.
E, é claro, muito, muito barulhentos. Como as ondas do mar onde brincam.
Beijos da "Cerejinha do Sundae",
Adri.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A culpa

A noite ia alta. Josué chegou à casa com um cansaço na alma.
Desabotoou o colarinho. Afrouxou a gravata.
Diante de si, na sala de estar, havia um enorme espelho, no estilo veneziano, para expiar-lhe as culpas.
Olhou para a imagem refletida e se envergonhou do que havia feito. Abaixou a cabeça.
Aproveitou o espelho para se resguardar de eventuais manchas que o seu ato pudesse ter deixado. Procurou no colarinho, na gravata, nos punhos da camisa branca e, com um suspiro de alívio, não havia qualquer resquício.
O pior, queridos amigos, é que Josué sentia culpa mas não remorso. Seu problema residia na esposa, adormecida no andar superior, que sempre confiou nele. Contaria ou não?
Bom, isto ele deixaria para outro momento. Estava exausto e necessitava urgente de um banho que o lavasse das lembranças do malfeito.
E assim transcorreu o silêncio da noite, apenas quebrado pelo barulho do chuveiro. Josué, com tamanha prudência, preferiu o banheiro social ao da suíte, para evitar o despertar de Maristela. E de suspeitas...
Subiu as escadas com a parcimônia do criminoso que se tornara.
" Não, criminoso não! Afinal, sou um homem e tenho meus direitos", pensava enquanto avançava em direção ao quarto do casal.
Vestiu-se e, ao se deitar,  a cama rangeu. Maristela, meio sonolenta, apenas questionou: " Chegou agora, amor?"
"Não, querida. Já cheguei há bastante tempo. É que estava no computador, revendo um relatório que tenho que entregar amanhã"- precisou mentir. Fazer o quê?
" Coisa séria do escritório?"
"Não, mulher. Rotina. Só rotina".
E assim se deu, com Maristela se enroscando no lençol e Josué na sua culpa.
As horas se passavam e nada do sono chegar. Sentia-se um cretino. Havia jurado! Jurou para a Maristela que jamais voltaria a fazer isso....
E não resistiu... Era gostosa a danada! E sempre que a via sentia todas as suas células estremecerem!
A boca aguava de desejo. Era um inferno.
Hoje não teve jeito.
" Pô, é a natureza falando e não se pode ir contra ela!", dizia para si, baixinho e mesmo assim, Maristela acordou: " Ir contra quem, homem de Deus?! Você está se virando a noite interinha e balbuciando tanto que não consigo engrenar o sono. Amanhã também trabalho, sabia?!"
" Tá bom, tá bom. Vou descer e ler alguma coisa..."
" Vai logo, que desse jeito não tá dando!", num tom exasperado de mulher que trabalha fora e dentro e exige dormir- óbvio!
Josué desceu com passos duros, sentindo-se enxotado da sua própria cama, do seu "ninho de amor".
" Agora, veja só se pode"- ia reclamando- " A gente chega no lar, crente que vai ser acolhido e é escorraçado  para fora do quarto, como um cão sarnento. É por essas e por outras que vou fazer de novo!"
E fez. No dia seguinte e em todos os outros, por mais de três semanas, até que, numa noite de lua cheia, a Maristela estava acordada e uivando, se é que vocês me entendem.
Josué nem disse aqui para a situação. Saiu de fininho, disse que a barriga não ia bem e se trancou no banheiro. Ficou lá por umas duas horas.
Quando saiu, a esposa havia dormido e Josué sentiu-se salvo.
" Mas logo naquele dia! Logo quando eu exagerei é que ela resolve "uivar"?
No dia seguinte tratou de sair mais cedo que o habitual para não encarar o questionário da esposa e chegou bem tarde, já na madrugada, tendo o cuidado de avisá-la que estaria organizando uns casos do escritório.
Salvou-se!
Mas não por muito tempo...
Certa noite, quando a situação completava quatro semanas, Maristela viu uma mancha na camisa e esperou o Josué para tirar satisfações.
Queridos leitores, a " Cerejinha do Sundae" recomenda: Não minta! Se mentir, policie-se!
Ou seja, é uma vidinha no inferno, com direito a suor e todo o mais!
Mal o homem atravessou a porta, tomou uma saraivada de impropérios pela cara:
" Sabe o que você é, J O S U É? Um mentiroso de marca maior, um cínico, um falso, um, um, um...", caindo num choro convulsivo de mulher irresignada com a prova dos fatos.
Brandia a camisa no ar, como uma bandeira de guerra perdida, dizia que J A M A I S o perdoaria, que tentou ajudá-lo, que ele PROMETEU que nunca mais faria e haja lágrima,  nariz inchado, cercado do drama que a situação exige- e espera-se.
Josué, aturdido, pedia calma- " Marizinha, meu amor! Os vizinhos vão ouvir... Grita mais baixinho. Afinal, não é para tanto..."
" Os vizinhos que se DANEM- em alto e bom tom! Eu é que sei da minha dor...."
E o buá continuava, entrecortado por tentativas frustadas de abraços, por parte do Josué.
E ele postou-se aos joelhos, quase numa contrição ritualística, e começou a esclarecer:
" Maristela. Eu admito. Sou um MENTIROSO!- dito assim, como um grito que liberta a alma.
Lembra-se quando fomos àquela endocrinologista..."
" Sei..."
" Pois é... Ela me deu uma listinha, disse que eu estava bem..."
" EU SEI!"
" Então, disse que eu poderia fazer muitas coisas ainda, que estava jovem e aparentava menos que a minha idade..."
" E DAÍ, J-O-S-U-É?!"
" Que bastavam cinco quilinhos, que era fácil e que não precisaria de muito esforço. Ela salientou - salientou mesmo!- que eu poderia me fazer concessões..."
" E????"
" FIZ! Sou homem! Sou macho! Sou casado com uma mulher que não me DÁ O QUE QUERO!"
Aí foi a vez dela pedir que Josué abaixasse o tom da voz.
" Não dou, Josué?!"
" NÃO!" - seu corpo era puro poder. Desabafaria anos de desejo incontido.
" Se era isso que você queria, bastava me pedir...", enxugando a lágrima teimosa que percorria o canto da boca.
" Então? Vai dar?!"
" VOU!"
Desceram os dois, em direção à cozinha. Maristela, com uma braçada, derrubou o centro de mesa, as frutas, tudo. Abriu a geladeira e, na penumbra da luzinha que dela saía, Maristela DEU!
Havia preparado TODAS as mousses que o Josué gostava, em especial a de chocolate, sua preferida e motivo da mancha na camisa.
E como um deus grego, Josué banqueteou-se com todas as guloseimas que Maristela sempre proibiu, sempre negou.
Beijos mil,
Adri.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Bendito atraso!



A nossa história começa na antessala de um consultório de ginecologia e obstetrícia.
Vocês pensarão: “ Que lugar estranho para ambientar uma história...”
Eu também concordo, mas o nosso conto decidiu ser iniciado lá. Parece impossível, mas quando começamos a escrever, tanto os personagens como a ambientação vão tomando forma e contornos próprios.
Bom, prosseguindo, lá estava ela: Trinta e muitos anos, observando o esmalte preto das unhas- “ Tenho que ir à manicure...”, pensava consigo enquanto se consolava porque a depilação estava em dia.
“Cecília.”
-“Sim, sou eu.”
Levantou-se cuidadosamente, apresentando o documento de identidade e a carteirinha do plano de saúde.
A secretária – uma senhora idosa e com um aspecto bastante severo- analisou a foto do documento como um perito criminal.
Cá entre nós, estava tenebrosa e irreconhecível, mas atire a primeira pedra quem estiver “bonitinho” em foto assim!
A secretária seguiu com a burocracia e Cecília sentou-se novamente, com uma sensação de culpada por alguma coisa.
Como a maioria dos médicos, a dela estava solenemente atrasada. Não que eu seja contra os atrasos, até porque não sou a mais pontual. Mas acho um horror quando NÓS nos atrasamos e ELES nos põem no último horário, com um TALVEZ pairando sobre este fato.
Cecília estava tensa e o atraso não ajudava em nada. Era um exame de rotina, mas nunca se sabe o que a rotina achará. Parece vestibular e jamais sabemos se estaremos entre os aprovados...
Costumo dizer aos médicos que a pior nudez é a que se faz aos médicos: pode-se estar vestido, mas eles nos perguntam tudo, até sobre os ancestrais. Pesam, medem, enfiam coisas nos nossos orifícios (pode ser o ouvido), mas a gente se sente invadido, como um E.T capturado.
E o pior disso tudo é que eu nunca vou enfiar nada nos buracos deles, não é?! Cadê a reciprocidade?!
Passaram-se alguns minutos e a porta de vidro se abriu. Uma jovem ruiva, grávida, entrou acompanhada de ... Ricardo!
Cecília desviou o olhar, fingindo procurar algo na bolsa, naquele desespero e aflição que só alguém que reencontra um grande amor consegue dimensionar.
O casal sentou-se e, logo em seguida, a secretária chamou a ruiva.
Cecília quase teve um colapso nervoso. Teve o ímpeto de sacudir a pequena velhinha até despencar-lhe todos os ossinhos. Antes que o “velhicídio” ocorresse, a ex futura vítima olhou para Cecília- parecia adivinhar as intenções dela!- e sorriu. Um sorriso amistoso, cheio de carinho.
A moça quase teve um infarto. A  avó de Ramsés sabia sorrir! E um doce sorriso!
-Ah... Só poderia ser ironia porque a ruiva, linda, jovem foi PROTEGIDA por ela, aquela, aquela...Cleópatra vadia e insensível! Peraí, pensou Cecília, Cleópatra tinha cabelos negros...
Enfim, a velhinha foi até a moça e, maviosamente -ui, cruzes, acho que fui contaminada por esta coisa toda antiga!- tocou a mão de Cecília, dizendo: “Eu percebi o seu incômodo porque a mocinha foi atendida antes de você, mas é gestação de risco. Você entende, com certeza...”
Eu odeio, queridos leitores, quem esfaqueia sorrindo. Sabem aquelas pessoas que dizem coisas horríveis, mas num tom de voz baixo acompanhado de um sorriso doce?! Eu, se pudesse e fosse legal, batia com rabo de tatu em todas elas.
Prosseguindo, a Cecília foi atingida por este veneno da avó do faraó- Raminho, para os íntimos.
Viu-se ali, sentada no mesmo ambiente que Ricardo, sem ter o que fazer além de disfarçar a ansiedade crescente.
Ele a olhou profundamente. Aqueles incríveis olhos cor de Avelã, com longos cílios negros que aqueceriam a alma de qualquer mulher.
Ela sorriu, mais tensa do que antes. Pensava que seria dali para o psiquiatra.
Já não pensava mais no exame. “ Dane-se o exame... Odeio esta velhinha... Ruivas são vulgares”.
Estava no esquema nada a ver com coisa alguma.
Suava, teve taquicardia, correu para o banheiro. Tentou lavar o rosto- as mãos estavam trêmulas- quando se olhou no espelho. “ Cecília. Você é gata, linda, maravilhosa e...MAGRA!”, caindo, em seguida no choro, porque se lembrou do bombom que havia comido e das unhas que não fizera a tempo. E logo hoje... Ricardo...”
Toc, toc, toc- Era a secretária- “ A senhora está bem?”
Cecília teve vontade de dizer que queria vomitar o bombom, fazer as unhas e matar a ruiva mas, tirando isso, tudo bem. Respondeu somente que sim.
Saiu do toilette recomposta. Sentou-se.
- “ Olá, Ricardo. Tudo bem?”, cumprimentando-o com dois beijinhos no rosto.
- “ Tudo ótimo! Nossa! Você está tão...DIFERENTE!
- “ D-I-F-E-R-E-N-T-E como???”
Pronto, lá se foi a mulher blindada e seja bem vindo o desespero.
-“ Sei lá... Acho que você deu uma encorpada...”
“Ele me chamou de gorda? Vai ver só...”
- “ O tempo passou para nós dois. Quando nos conhecemos você também não tinha esses cabelos brancos que, aliás, estão em motim!”, soltando uma risadinha de vingança.
E Ricardo, sem qualquer abalo, olhou para a alma da mulher e, após alguns segundos,
-“ Casou?”
Ela pensou em mentir. Afinal, jamais voltariam a se ver e sairia por cima. Diria que o marido era lindo, carinhoso, bem sucedido, que tinham dois filhos maravilhosos... Ah! E a espera de um terceiro filho, numa gestação SAUDÁVEL!- Ponto para o time da Cecília.
Mas não. Esse não era o seu eu. Respondeu com um lacônico “Não”.
Estava coberta de vergonha. Quando Ricardo entrou naquela sala descobriu que ainda o amava e o havia esperado desde o término, há uns dez anos.
Desejava as mãos nos cabelos, os pelos do seu peito, o perfume do pescoço... E tudo isso agora era da Cleópatra ruiva ( aquele tom era falso! Hum!)
- “ E você, como está com a gravidez dela?”, tentando ser neutra.
- “ Bem! Estamos todos muito felizes e a família comemora muito a chegada deste bebê!”
- “ Ai, que maravilha”- Leia-se: MORTE À VADIA!
Cecília levantou-se determinada. Chegou até a secretária- a avó de Ramsés- e decisivamente disse: Não posso mais aguardar. Marque-me para um outro dia.
Ricardo apressou-se: “ Olha, Cecília. Sei que está ocupada e que ela foi atendida fora do horário. Mas a gravidez é de risco e hoje ela não acordou bem. Preferi trazê-la de imediato e gostaria de não prejudicar você com isso. Enquanto aguardamos, conversamos mais. Por favor...”
“ Boa, esta. Fico aliviando a pressão dele enquanto aumento a minha. Ricardo é um perverso”, pensava enquanto balbuciava um “Tá bem...”
- “ Mas, então. Você está linda!”
- “ Você quer dizer GORDA”
- “ Eu???”
-“ Ué? ENCORPADA significa o quê?”
A gargalhada que o Ricardo soltou foi tão alta que a avó de Ramsés acordou do cochilo com aquele olhar severo.
- “ Não! Eu quis dizer que você está mais mulher, em unidade. Sabe, completa. Por isso  perguntei se casou.”
- “Ih... Vamos mal. Em que século você vive? Uma mulher pode ser feliz solteira. Você sabia que as solteiras transam mais que as casadas? É estatístico!”
A velhinha quase teve um troço. Ela era da época que não se falavam “essas coisas” assim, em qualquer lugar. E eram “relações sexuais” e não “transar”. Na época do Ramsés transava-se onde? Enfim...
- “ Claro, Cecília. Eu até concordo” e com isso, a porta do consultório abriu-se e saiu a ruiva, sorridente, com as mãos sobre a enorme barriga.  Agarrou o pescoço de Ricardo avisando em alto e bom tom: “Tudo ótimo com o bebê!!”
O homem desmanchou-se em afagos, lágrimas, beijou a barriga da ruiva. Era solar!
Cecília sentiu-se no subsolo do amor. Sorriu amarelo e, quando ia entrar no consultório arrastando atrás de si os pedaços da sua infelicidade, Ricardo foi até ela: “ Espera. Levamos dez anos. Quero todos os seus contatos.”
Que sorriso de entrega! Lindo!
- “ Para o quê?”
E a ruiva interrompeu a resposta: “ Quem é, Rico?”
 - “ A Cecília. Que absurdo! Eu nem as apresentei. Mas era muita emoção para um único dia. Esta é a Carmem, minha irmã caçula. Lembra-se dela?!”
E Cecília recordou-se de uma ruivinha, sardenta, de uns oito anos, sempre rondando o casal e repetindo: “ Quero ser dama! Sei que já não sou pequena, mas quero ser! Ninguém casou antes nessa família...”
Com um alívio na alma, cumprimentou a Carmem e acarinhou a barriga do sobrinho- ufa!- do seu amor.
- “ E você, Ricardo, tem quantos?”
- “ Eu? Nenhum e como você jamais me casei”, sustentando um sorriso de contagiar a secretária.
Carmem saiu de fininho e, com um aceno, levou consigo a avó do Faraó, que disse ir fazer um cafezinho.
E ficaram os dois ali, no silêncio dos amantes, nos beijos abandonados nos braços um do outro, no alívio do reencontro.
E que Deus abençoe os atrasos!
Beijos mil,
Adri.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Feliz Ano Novo!

Queridos "Cerejinhas" e "Sundaes".
Fim de um ciclo, início de outro. Incrível como o nosso psicológico fica afetado com esta data: 31/12.
Realmente nos parece que todas as situações, boas ou ruins, ficaram para trás e uma nova jornada é iniciada.
Eu tenho uma prima querida, a Lúcia, que nasceu exatamente neste dia. Fico imaginando como ela deve se sentir. É um mundo inteiro, em todos os continentes, comemorando junto à ela, por ela, que receberá todas as energias positivas e em especial. Todas as mentes voltadas para o futuro e ACREDITANDO firmemente que o próximo ano será melhor. Esse evento só ocorre na passagem do ano, como um parto aguardado de um filho muito desejado.
O mundo desperta numa sintonia fina, limpo de medos, acreditando em dias melhores.
E essa  renovação nos é vital!
Eu estava em Búzios e não consegui contato com a Lúcia, em Portugal. Mas, enquanto via os fogos de artifício, meu coração estava conectado ao dela e ao mundo. Estava com todos vocês.
Para mim, muitos não são conhecidos. São leitores do que eu, carinhosamente, preparo para todos.
Mas naquele momento, sinceramente, fui conectada ao TODO.
De repente, meus olhos se encheram de lágrimas e descobri que todos que eu amo, incluindo a família "Cerejinha do Sundae", estão comigo sempre, seja em Búzios ou, sei lá, na Capadócia.
Fazemos parte do todo e o todo pertence a cada uma das minhas células.
Portanto, para 2013, desejo a imagem da foto: ultrapassar obstáculos e seguir adiante!
Obrigada por existirem em minha vida!
E, é claro, feliz aniversário LÚCIA!
O mundo é seu e todos nós estamos em VOCÊ.
Beijos a todos.
Adri.