Domingo.
Ariclênio afundado no sofá, com aquele pijama que nem o mendigo aceitou, estava lendo no jornal a vergonha do seu time (" Perdeu de oito! Com o que eles ganham, até a tia Cotoca fazia um gol!"- pensava ele, inconformado) quando viu Valquíria passar nua, com a pressa dos noivos em noite de núpcias, na direção do quarto de hóspedes.
Ariclênio afundado no sofá, com aquele pijama que nem o mendigo aceitou, estava lendo no jornal a vergonha do seu time (" Perdeu de oito! Com o que eles ganham, até a tia Cotoca fazia um gol!"- pensava ele, inconformado) quando viu Valquíria passar nua, com a pressa dos noivos em noite de núpcias, na direção do quarto de hóspedes.
Primeiro,
pensou consigo: " Deve ser barata", e continuou a leitura, desta vez
calculando a quantos anos seria condenado se matasse o time inteiro.
Repentinamente
observou que havia silêncio e, em quarenta anos de casados, Valquíria nunca
conseguiu abater um inseto sem os famosos gritos de: "morra, seu
monstro, morra!", ou ainda " Hasta la vista baby", acompanhados de
chineladas, vassouradas, inseticidas, bombas nucleares, enfim, o que
Valquíria achasse pela frente.
O silêncio é acompanhado da corrida de retorno ao quarto do casal, com Valquíria carregando nas mãos os lápis de cor do neto.
Munido
de uma curiosidade cafajeste, largou a vergonha do seu time sobre a
mesa de centro e foi para o quarto do casal. Afinal de contas, pensou
Ariclênio, a reputação da família estava em jogo: "E se algum vizinho
visse aquilo".
Pior:" Se filmasse e pusesse no You Tube".
Pior:" Se filmasse e pusesse no You Tube".
Não! Antes fecharia as cortinas. Era mais prudente para evitar a "Maratona da Valquíria" espalhada no mundo.
Ao
fechar as cortinas, para o azar dele, teve que cumprimentar dois
vizinhos, de uma só vez, e foi tomado de pânico: "Será que os vizinhos
estavam ali para ver a Valquíria? Será que ela já fazia isso há muito
tempo e eu não sabia? Seriam seus amantes esperando um sinal?". E o bom dia
saiu ardido da sua boca.
Sentiu
o corpo estremecer de ódio. A vergonha do time, a maratona da
Valquíria, os vizinhos -muita coincidência!- passando naquele EXATO
momento. Tudo fazia sentido!
Ouviu passinhos rápidos.
Valquíria, peladona, correndo novamente para retornar com a caixa de giz de cera da neta.
Valquíria, peladona, correndo novamente para retornar com a caixa de giz de cera da neta.
Blam!
A "pelada" bateu a porta do quarto, aquele de tantas noites de amor
entre a " Ursinha" e o "Arizinho" (ai, esses apelidos ridículos, que só
fazem sentido para o casal...).
Era
demais para o seu coração com quatro pontes de safena. Passos firmes em
direção ao palco da sua traição, iria tirar a situação a limpo. Ela
teria que explicar tudo, tudinho mesmo, até a derrota do seu time!
Abriu
a porta num sopetão e viu a cena impiedosa: Valquíria nua, diante do
espelho, braços para cima e, embaixo de cada seio, os lápis de cor e os
gizes de cera dos netos. Debulhava-se em lágrimas. Aquele choro de
alma, que faz uma pessoa ficar com o rosto esbofeteado.
"Cruzes, mulher!", arrepiou-se todo.
Ariclênio
lembrou-se de Dona Esperança.
Era criança, devia ter uns seis, sete anos de idade, quando a vizinhança, também num domingo, foi acordada pela sirene de uma ambulância. Àquela época, correu para a porta de casa, junto com os pais e seus dois irmãos -"Jesus! Além de ser domingo, também estava de pijama!"- e viu a cena: Dona Esperança, numa camisa de força, sendo carregada por dois homens imensos para dentro da ambulância. Gritava a plenos pulmões: "Sou Maria Antonieta! Sou Maria Antonieta!".
Era criança, devia ter uns seis, sete anos de idade, quando a vizinhança, também num domingo, foi acordada pela sirene de uma ambulância. Àquela época, correu para a porta de casa, junto com os pais e seus dois irmãos -"Jesus! Além de ser domingo, também estava de pijama!"- e viu a cena: Dona Esperança, numa camisa de força, sendo carregada por dois homens imensos para dentro da ambulância. Gritava a plenos pulmões: "Sou Maria Antonieta! Sou Maria Antonieta!".
"Seria
o caso de Valquíria, meu Deus?".
Tremendo-se todo, como quem vê assombração, aproximou-se da esposa e bem baixinho perguntou se ela estava bem - Já repararam como tem gente que fala qualquer coisa em situações críticas? Vai a um enterro e pergunta para a viúva: " Como vai, Dona Fulana? Tudo bem?"
Subitamente o choro parou. Ariclênio sentiu que precisava de uma cueca limpa enquanto Valquíria, olhos flamejantes, sentenciou: EU EXIJO UMA PLÁSTICA!
Tremendo-se todo, como quem vê assombração, aproximou-se da esposa e bem baixinho perguntou se ela estava bem - Já repararam como tem gente que fala qualquer coisa em situações críticas? Vai a um enterro e pergunta para a viúva: " Como vai, Dona Fulana? Tudo bem?"
Subitamente o choro parou. Ariclênio sentiu que precisava de uma cueca limpa enquanto Valquíria, olhos flamejantes, sentenciou: EU EXIJO UMA PLÁSTICA!
"Claro,
meu amor! Tudo que você quiser, querida!", tentando sair do quarto de
mansinho. Valquíria o observou como quem observa uma presa e disse, aos
berros: " Ariclênio, EU EXIJO UMA PLÁSTICA JÁ!".
"
Mas, meu amorzinho, hoje é domingo. Amanh...", não conseguiu terminar a
frase. Valquíria retirou o que havia embaixo dos seios, abaixou os
braços e foi para perto do marido.
Ariclênio, bem mais alto que a esposa, sentiu-se um anão diante de tamanha decisão.
E,
olhando nos olhos, a pobre mulher explicou que, como de costume, foi à
padaria do seu Aníbal comprar o de sempre. Passou no jornaleiro, pagou o jornal e uma revista feminina. Dessas bem cretinas que dizem
" Saiba a dieta da atriz tal, que perdeu 10 quilos em dois dias!" .
Continuando- ensinando testes para saber se você ainda estava sedutora.
Valquíria fez todos eles e o último foi o do seio: "Coloque um lápis, sob o seio".
Caso o lápis ficasse preso... O seio já era.
Achou então que entendera, mal, que deveriam ser VÁRIOS lápis.
Todos ficaram presos.
Pensou: " Hoje em dia esses lápis são muito finos, ainda mais os de cor" (para acabarem mais rápido- criança, né?!) e pegou os de cera, mais parrudos, que também ficaram lá, terminando a frase novamente em prantos, com o Ariclênio acocorado, próximo à porta, sem entender nada.
Continuando- ensinando testes para saber se você ainda estava sedutora.
Valquíria fez todos eles e o último foi o do seio: "Coloque um lápis, sob o seio".
Caso o lápis ficasse preso... O seio já era.
Achou então que entendera, mal, que deveriam ser VÁRIOS lápis.
Todos ficaram presos.
Pensou: " Hoje em dia esses lápis são muito finos, ainda mais os de cor" (para acabarem mais rápido- criança, né?!) e pegou os de cera, mais parrudos, que também ficaram lá, terminando a frase novamente em prantos, com o Ariclênio acocorado, próximo à porta, sem entender nada.
Enfim,
queria uma plástica nos seios, para implantar silicone. Lipo na
barriga, culotes, pernas, braços e coxas, retirar as bolsas de gordura
sob os olhos e dar uma "puxadinha" na papada.
Ariclênio,
"sabiamente", com aquela psicologia que só os homens têm, retrucou: "
Pô, Val! Você precisa é de uma centrífuga", soltando um risinho depois.
Pronto. Quebra pau, discussão e, no dia seguinte, o segundo carro do casal foi vendido para custear a "maratona".
Exames,
operação em etapas, pós-operatório e o Ariclênio lá, amuado, vendo a
mulher da sua vida se transformar em outra: "Tá toda roxa", dizia aos
amigos que perguntavam.
Valquíria
rejuvenesceu, criou alma nova. Começou a malhar, virou loura, exigiu
empregada. Agora seria uma "outra mulher", dizia às amigas.
Claro
que, de boba ela não tinha nada, tratou de contratar uma empregada
gorda, barriguda, peito caído e sem dois dentes: um em cima e o outro,
embaixo.
Certo dia, quando Valquíria retornava da academia, ouviu sussuros e gemidos vindos do quarto da empregada.
"Eu a avisei que não admito homem aqui dentro. Que vá a um Motel!"
Ao
entrar, viu a cena que a estremeceu: Ariclênio nu, sobre a empregada
(claro que nua), com os lápis e gizes dos netos sob os seios da coitada.
Valquíria perdeu o comando do corpo sarado e grudou na parede. No seu silêncio, nada entendeu. "Ariclênio, seu covarde!
Eu passo por tudo isso para você me trair com ELA!" - um ar de desprezo
na voz.
E
Ariclênio, ofegante, lágrimas aos olhos, esclarece: " Val, meu amor, eu
não traí você. Eu estou aqui porque tenho saudades de você. Para me
lembrar de VOCÊ".
O Ministério da Cerejinha do Sundae adverte: Cuidado para que, na sua "maratona", você não deixe de ser VOCÊ.
Beijos mil.
Adri.
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