terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Papai Noel e o pedido inesperado

Era véspera de Natal e o nosso amado "bom velhinho" estava naquele desespero de noiva em véspera de casamento. O coitado havia se preparado o ano inteiro com um personal trainer para ficar em forma. Quero deixar claro que ele não se rendeu à opressão da mídia e ficou magrelo. Não mesmo!
Ele continuava rechonchudo, mas com excelente condicionamento físico. Confidenciou-me que chama de "maratona da sorte", porque rodar o mundo todinho com presentes os mais esdrúxulos não é brinquedo mesmo. Sem contar que a sua digna esposa, a "Mami Noel"- ela trocou o nome de "Mamãe" para apenas "Mami" depois de uma consulta ao numerólogo- enfim, fica entulhando os ouvidos do pobre com reclamações, porque desde que se casaram ele NUNCA passa o Natal com a família- "Só se preocupa com o trabalho"- repete incansavelmente a gordinha, que representa as queixas de todas nós.
Mas este ano o Papai Noel está, diria eu, encalacrado. Para quem desconhece o termo é o mesmo que ferrado, arruinado, acabado, embaralhado e todos os demais "ados" que possam lembrar.
Bom, no dia 24 partiu o "Santa" em direção às casas e apartamentos de todo o globo, levando consigo a "Noel Machine", uma espécie de super carro, com espaço infinito e muito, muito silencioso.
Ele deu uma aposentadoria às renas que com ele trabalharam anos a fio e elas decidiram passar os seus Natais com as famílias, geralmente em praias paradisíacas, postando fotos no facebook de enlouquecer a "Mami Noel".
Daí os seus ajudantes inventaram o tal veículo, ecológico- porque é movido a eletricidade- mas turbinaram o motor, já que o tempo é muito exíguo.
Quando tem que parar num condomínio, para não ser visto, utiliza-se de um spray de invisibilidade, em substituição ao pozinho mágico, do qual passou a ter alergia e tudo ficou nos conformes.
E  lá foi ele, em direção a todos os continentes, dirigindo o seu possante- sempre com cinto de segurança- e mandando ver na colocação dos presentes sob as árvores de Natal.
Sempre faz questão de dar um beijinho em cada criança, desejando que Deus a abençoe e come umas guloseimas que deixam nas mesas montadas. Podem ser simples, mas um copinho de leite e uns biscoitinhos ele sempre come, para não magoar os donos da casa que com tanto amor o recebem. Ruim mesmo é passar pelas chaminés depois de algumas paradas, porque a barriga começa a aumentar e então, muito habilidosamente, ele comprou essas cintas modeladoras para os casos mais emergenciais e prende a respiração, encolhendo a barriga e tchum, lá se vai ele como num tobogã, em direção ao...fogo!
Acalmem-se, meus amados leitores. Ele, o Noel, já tem prática e faz uma espécie de "virada olímpica" ao final da descida e, muito raramente, a "Mami" tem que reformar as calças do Noel.
Mas uma pessoa em especial estava perturbando o velhinho- a Mariana. Mari, para os íntimos.
Já repararam como todos os nomes, hoje em dia, podem ser resumidos a Dri, Lu, Dani, Su, Mel, Pati,
Carol e por aí vamos, para desespero da minha mãe: " Levamos nove meses pensando num nome, para ser transformado em uma sílaba". Mas, eu pessoalmente adoro, porque estreita as relações e torna tudo mais íntimo. Você não chega num desconhecido, por exemplo, a dona Fátima da padaria, e manda: "E aí, Fafá?! Beleza?! Me veja uns pãezinhos e um bolo de fubá."
Retornando à nossa história, a Mari se tornou um problemaço. Motivo: ela pediu TEMPO.
O Noelzinho estava em pânico há vários meses porque ele não é o senhor do tempo e presente, subentende-se, como alguma coisa, que ele possa transportar. Como não existia saída, o Papai Noel chegou à cobertura da Mariana, por volta das 23:00h e resolveu levar um papo:
" Psiu...Psiu... Mariana"
"quié... sai daqui Giovanni"
"Não é o seu namorado e fala baixinho que ele está vendo o especial de Natal na TV e eu não quero incomodar. Eu sou o Papai Noel"
" Tá bom. E eu sou a Marilyn Monroe", agarrando o travesseiro e retornando ao sono.
"Filha, acorda. A gente p-r-e-c-i-s-a conversar".
Aí a mulher se atentou para o fato de que era o próprio que estava sentado na beirada da sua cama e quando pensou em dar pulos de alegria acompanhados de gritinhos histéricos -daqueles que só nós mulheres sabemos dar- o sábio Noel lançou uma nuvem sobre ela- inventada pelos duendes- que a fez ficar, digamos, sóbria.
" Então, Mariana"
" Pode me chamar de Mari", com um sorriso de dar lacinho atrás da cabeça, mas beeeeeem mais calma.
" Pois é, Mari. Você me pediu TEMPO e isso tem sido motivo de muita insônia para mim. Sorte que sou produtivo e vou malhar, leio uns clássicos, vejo uma luta de MMA e, assim, acabo adormecendo por exaustão. Mas não consegui solucionar a questão."
" Olha só, Noel. Posso chamar assim, né?! É que a gente é super íntimo e eu escrevo cartas para você desde menininha. Aliás, sabe que é uma tremenda falta de educação não respondê-las?"
E o coitado do Papai Noel ficou corado, tentando explicar que o departamento de correspondência esteve em greve por melhoria nas condições de trabalho e coisa e tal e a Mariana prosseguiu:
" Tá bom, vamos lá. Eu tenho de tudo que o dinheiro pode comprar. Sou proprietária desta cobertura, tenho vários automóveis caríssimos e muito desejados, só frequento eventos VIPs, sou Madrinha da Bateria - não sabe nem sambar...- e tenho um alongamento nos cabelos de dar inveja", falando isso sacolejando as longas madeixas bem no rosto do velhinho, que começou a espirrar.
" Que foi?! Eu só uso shampoo importado, feito com lama. Ou seria feito pelo Dalai Lama? Ah, sei lá, mas é um must. E, mesmo com tudo isso, sinto-me vazia. Foi então que pensei: estou com esta sensação porque tenho seios miúdos. Mandei colocar duas próteses de silicone e turbinei os "gêmeos"- sacolejando os dois e, Papai Noel que é bonzinho mas é macho não se conteve e olhou aquele bailar como se hipnotizado estivesse.
" Posso tirar uma foto nossa e colocar no face? Tenho certeza que muita gente vai curtir e fica viral em menos de duas horas" e quando a Mari ia sacar do celular de última geração para registrar o encontro, o velhinho- recuperado a força e saindo da hipnose- lançou o aparelho na piscina.
" Menina, você não tem noção do perigo? Eu sou um dos símbolos do Natal e você vem com esta de postar no face? Se eu quisesse ser conhecido, virar celebridade, já poderia ter feito isto neste muitos anos de vocação, não é não?! Voltando à sua questão- já meio exasperado- eu não tenho como lhe dar TEMPO mas posso oferecer outros produtos. Abriu a sacola e prosseguiu; deixe-me ver... Achei!
Que tal uns aparelhos para montar uma academia aqui, na sua varanda. Já imaginou?! Malhando e olhando o mar"
"NÃO. Já tenho. Quero T-E-M-P-O".
"Talvez um cruzeiro para o Caribe, com direito a um acompanhante e..", antes que terminasse ouviu um não sonoro.
"Quem sabe, Mari, um vibrador novinho em folha que um galã de novelas me pediu? Hum? Eu posso dar a ele o cruzeiro e você fica com o vibrador?"
" IH? Tem certeza que você não é um picareta? E isso lá é coisa de Papai Noel?"
" Ah, as pessoas me pedem cada coisa... Pedem até TEMPO!" dardejando-a e soltando o famoso OH-OH-OH em seguida.
Ela não gostou muito, mas engoliu o sapo.
" Como ficamos? O trato é a gente pedir e o senhor atender. Tá parecendo banquinha de camelô! Só falta dizer que é tudo por $1,99"- ficaram quites e mulher irritada é isso aí. Cochilou o cachimbo cai.
" Seu problema não é TEMPO e sim o uso que faz dele. E como é precioso... Vou lhe dar o tempo que precisa e irá refletir sobre tudo o que tem feito." Estalando os dedos, ambos se tranpostaram para o meio do deserto, onde havia um oásis, uma tenda bem sortida e mais nada.
" Ficou doidão, Noel?!"
" Não. Estou dando o que pediu. Ficará aqui até o Novo ano surgir e voltarei para buscá-la."
"Há, há, há. Muito divertido... Vão achar que fui sequestrada e virão me procurar."
"Sinceramente, quem só compra não tem amigos e a sua falta nem será sentida", estalando os dedos e sumindo, num passe de mágica.
A mulher ficou fora de si. Arrancou a roupa, se jogou no lago, quebrou umas peças em porcelana- ai que pena...- e, vendo que o mundo não mudaria por sua vontade, sentou e chorou.
E ali foram dias de calor intenso, tendo que buscar água para beber, fazendo um pão com o que tinha e comendo frutas locais. À noite era pior, porque o vento açoitava a tenda, o que estremecia o corpo da mulher, sem ter com quem se abraçar. E as horas se arrastavam para, no dia seguinte, começar tudo novamente.Teve chance de apreciar o céu quando não havia tempestade de areia e descobriu a infinidade de estrelas que jamais poderia imaginar. Sentiu falta dos pais, do namorado Giovanni- que ela tratava como cachorro-, do cachorro "Dogão"- que ela tratava como filho, da comida da avó, já falecida e lembrou-se dos Natais da sua família. Não tinham muito dinheiro, era tudo muito simples, mas muito alegre e cheio de amor.
Certa vez, Mariana pediu ao avô uma bicicleta de Natal. Por ser muito cara, ele deu o que pode e foi G E N I A L: carpinteiro, construiu um teatro de fantoches e reuniu a meninada que se divertiu a valer e ela sequer se lembrava da bicicleta que havia pedido. O avô a transportou para a fantasia, coisa que a bicicleta não teria o poder de fazer.
Anunciando o Ano Novo, o Noel voltou para cumprir o prometido, claro que depois de muitas concessões à Radio Patroa do Pólo Norte.
Encontrou uma mulher flambada pelo sol, sem os apliques no cabelo e com um rosto em paz.
"Então, filha? Vamos voltar?"
"Não sei... Estou bem aqui."
"Nada disso. Era apenas por uma semana, como um SPA. No seu caso, cerebral" soltando o OH-OH-OH peculiar.
Ela não riu nem redarguiu. Ficou serena e questionou se alguém notou a sua ausência.
O velhinho rodeou, rodeou, foi educado mas a resposta era negativa.
Mariana chorou. Enquanto no sofrimento lembrou-se de todos, não fora lembrada por ninguém.
"Menina. Você me propôs a pior provação e eu dei à você a chance de entender o que é o tempo. Você aprendeu, tanto que lamenta o amor não sentido, o esquecimento. Volte e utilize o tempo que terá para recomeçar, assim como o ano que se anuncia."
E assim foi feito, num estalar dedos, Mari estava na sua cobertura de frente ao mar, deitada na cama King Size, ao lado do Giovanni:
"Oi, amor. Senti sua falta".
A mulher ficou animada e perguntou:
"Foi mesmo?! Eu também, eu te amo, não vivo sem você e..." antes que terminasse a verborragia, ele acrescentou:
"Da próxima vez que for ao banheiro, fecha a porta que a luz me acorda, amor", voltando a dormir profundamente.
E ela ficou ali, pensando em quanto tempo levará para reconquistar o que, realmente, faz da nossa vida única e exclusiva. Uma vida VIP.
Desejando um Feliz Natal a toda a família "Cerejinha do Sundae" que só faz aumentar- Graças a Deus!- e a todas as pessoas dos países que me prestigiam, lendo os meus contos:
Brasil, Estados Unidos, Rússia, Alemanha, França, Hungria, Portugal, Colômbia, Itália, Bélgica, Japão, Noruega, Dinamarca, China, Reino Unido, Argentina, Macedônia, Peru, Malásia, República Dominicana, Austrália, Holanda, Guiana Francesa, Irlanda, Sérvia, Polônia, Ucrânia (Boa sorte), Angola, Espanha, Turquia Casaquistão, Belarus, Indonésia e Romênia, todos elencados por ordem de adesão.
Espero que se lembrem de utilizar o "tempo" como um aliado. Uma TV de última geração é ótima, mas os braços de quem nos ama são muuuuuuito melhores.
Que 2014 seja um ano de paz e realizações, magnetismo positivo e pensamentos realizadores dos potenciais benéficos contidos em todos nós.
Amo vocês!
Beijos,
Adriana Andollini.