quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A Sogra

Sejamos francos: O que ocorre com a mulher quando se torna SOGRA?

Deveria ser simples, natural e até esperado, porque ninguém em sã consciência deseja ter um filho babão em casa, certo?! Mas parece que o óbvio é bem relativo e no mundo inteiro. Não adianta idealizar que a mãe do homem alemão seja mais doadora e desapegada do filhote ou ainda a mãe islandesa (A Islândia, para mim, é como a Atlântida, concordam?).

Quando ainda são pequenos, não há ameaças, porque o Pedrinho diz à mamãe que ama de paixão a Ticiane, do Jardim III, nível V, repartição 4 (Na minha época era Maternal. Jardim e C.A. Hoje tenho a impressão que é a localização de cova em cemitério ou sala de chefe em repartição pública arcaica).  É até bom, " meu filho é pegador".

Enfim, o reinado desta recente mãe é extenso e seguro. Suas pretensões são que o Pedrinho use a privada, levante a tampa antes e a abaixe depois e que, de preferência, lave as mãos ao final. Porém, com o passar dos anos esta mãe, plácida no seu domínio, estremece quando, ao entrar no quarto do Pedrinho adolescente sem bater, o vê no fabuloso "cinco contra um" e, enfurecida, deseperada, histérica (não tenho mais adjetivos)  questiona: Pedro Henrique de Blá Blá, pode me dizer o que está fazendo?

Cá entre nós, mereceria a resposta correta: "Batendo uma. É por isso que o papai amassa a vizinha. Você já não sabe mais o que é isso, pô!"

Clássica cena. Ainda hoje, o que é pior.

Cena 2, o Pedrinho ("Para as mães, os filhos são sempre crianças"-argh) traz para apresentar à família Blá Blá a Zulema Gororoba, moça fina (na cintura), cheia de piercings, tatuagem, marquinha do biquini (minúscula) que chega chegando e diz um glorioso: "E aí tia, beleza?"

A "tia", em questão, quase tem um troço, fica trêmula e mal consegue balbuciar um "muito prazer, minha filha" e corre para a cozinha, alegando ter que desenformar um pudim de leite.

Almoço tenso, o pai do Pedrinho com os olhos em cima da tatuagem da Zulema -que se vê o ínicio mas não o fim-  a irmã perguntando quando pode trazer o Tavinho para almoçar, já que ela leu que os direitos são iguais e o caçula tirando meleca distraidamente e colando embaixo da mesa. Um inferno de Dante tropical.
Ao final do almoço, "a sogra" se despede contidamente, belisca o marido (porque não tira os olhos da tatuagem) e todos voltam às suas vidinhas. Menos "a sogra".

Esta vai se apegar com Nossa Senhora (todas), marca com um pai-de-santo para fazer um ebó, vai para a casa da tia Cotoca e chora as suas desventuras.

A sábia Cotoca salienta: "É besteira, ele é jovem e vai passar. Experiência é sempre bom. Quer um chazinho de cidreira?"

Os anos se passam e Pedrinho vai ripando geral mas, sempre respeitador, leva a escolhida para apresentar à família. O interessante é que NENHUMA SERVE para ele, na opinião da "sogra".

Certa vez ele conseguiu (não se sabe como) namorar uma harpista. "Não serve, Pedrinho. Este instrumento é muito grande, tem que treinar muitas horas por dia e quando ela estiver grávida, como vai ser? E a barriga? E o quarto do bebê? Você vai ter que comprar um apê com, no mínimo, no mínimo, cinco quartos". E Pedrinho olhou para Silvania, que não era lá tão apetitosa e, dois meses depois, terminou com a menina dizendo: "Você dá muita despesa!"

Mas enfim, o Pedrinho, quase aos quarenta anos, encontra o par perfeito para..."a sogra": Bela, culta, não muito gostosa (que atraia o sogro), funcionária alto escalão, família tradicional e que a chama de "senhora". Tudo perfeito.

E "a sogra" a trata com todos os rapapés, sem querer que o filho perdesse aquele partidão (sim, porque Pedrinho não evoluiu muito além do Jardim III).

Chega o dia do casamento. Igreja lotada, todos bem vestidos, "a sogra" conduzindo Pedrinho ao altar, cortejo impecável. Dentro de si, pensava:" Coração de mãe não se engana. Escolhi a melhor nora."
Esperaram quinze, vinte trinta minutos e nada da noiva. Celular desligado e nem os pais dela sabem o que aconteceu.

O caçula tenta ajudar: "É dia, diarr...caganeira!"- " Xiiii, garoto, é a Casa de Deus!"
"Não, ela não tá na Casa de Deus. Deve tá em casa com caganeira. Eu já tive." Abafa, abafa, burburinhos, convidados irrequietos, uma hora e meia de atraso.

Repentinamente, entra esbaforido pela nave da igreja o motorista do carro alugado para a  noiva e, entre ofegante e chocado, avisa: "Não tem mais casamento!"

"A sogra", pálida, quer saber o que houve, se um acidente; morreu de alguma coisa (nervosa em casar com aquela joia do Pedrinho). A  resposta foi seca: "Fugiu! Com a Zulema Gororoba". E "a sogra", que tanto sabia sobre a vida e os meandros do amor, despenca como jaca podre no Altar. E o caçula insistia: "Lembrei: É DIARREIA".

A Cerejinha do Sundae: Sogra boa é aquela que não tem boca, olhos e ouvidos. O SEU filho não é sua propriedade. Ele TEM que ser entregue ao mundo e para outras pessoas, quer você queira, ou não.
E outra coisa: Para de olhar o seu filho e vá transar com o seu marido, porque este sim é o seu homem!

Beijo mil.
Adri.

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