quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A incrível jornada de João e Maria

Eles vieram de longe, como muitos vêm.
De carona em carona, atravessando estradas poeirentas pelo país até que, finalmente, João e Maria chegaram à capital.
- "Que maravilha de lugar, João! É melhor do que poderíamos imaginar".
Dizendo estas palavras, Maria escondeu a maior emoção de todas- Seus filhos nasceriam na capital!
João de nada desconfiava. Ele jamais concordaria com esta empreitada se soubesse que seria pai.
Desembarcaram e, para Maria, foi mais difícil, porque sentia-se pesada. Múltiplos!
- "Maria, precisamos nos acomodar logo, pois já, já anoitecerá", indo em direção a uma espécie de albergue de rua, sujo... Mas era um lugar para ficar.
A comida foi pouca e rala. E o vento estava inclemente naquela noite. Cansados da viagem de dois dias, rapidamente adormeceram, agarradinhos um ao outro, para esquentar o início de suas vidas na capital.
Com o raiar do dia, o sol batendo no  local onde dormiram, Maria decidiu que não teria os seus "múltiplos" lá.
Sem necessitar muita espera, passou às suas frentes o que seria o palácio dos sonhos de todos e um lar para a nova família.
- " Corre João! Achei o nosso lar!"
E João, meio zonzo, sem nada que o alimentasse naquela manhã, seguiu Maria e se deparou com algo monumental: "Maria! Que espetáculo!"
- " Eu dissse, João! Aqui seremos PRÓSPEROS."
- " Como chegaremos lá? É tão íngreme e alto!", ponderou o faminto João.
- " Acalme-se, que eu sou a M A R I A!", dividindo as letras do próprio nome como quem possui superpoderes. "Múltiplos!", pensava Maria enquanto observava o enorme espaço no qual habitariam, bem aquecido e com alimento mais que suficiente.
Maria realmente resolveu a situação. Por aqui, por ali, foram subindo, subindo e...chegaram! Capital e mansão!
Finalmente venceram na vida.
Algumas horas mais tarde, o que eram alegrias transformou-se em desespero.
O palacete foi invadido por uma torrente de água, quase levando o casal. Logo em seguida, foram atacados por todos os lados.
- " INVASORES!", gritou João, tomando Maria consigo, ao tentar levá-la para os fundos do local.
Em seguida, a água subiu muito mais, sendo acompanhada por uma grossa espuma.
Maria, quase se afogando, agarrava-se ao que podia e, no desespero, havia-se perdido do amado João.
- " Amooor, não o vejo...- cof, cof- sendo tragada pelas águas e lutando por si e seus múltiplos.
Numa onda, como surfista campeão, chega João, equilibrando-se sobre algo que Maria não reconheceu.
- " Sobe, Maria! Sobe!"
De um único golpe, João arrebatou a amada e a levou sobre as ondas que invadiram o seu lar.
- " João..."
- " Sim, Maria..", num tom terno, de quem vê a morte nos arredores e não quer perder, para ela, o grande amor.
- " Você e eu teremos MÚLTIPLOS!"
João, faminto e quase no final das suas forças, foi insuflado por uma energia transcendental. Conseguiram aportar em um local mais alto e, emocionados, comemoraram a notícia.
- " Desde quando você sabia?", questionou João.
- " Há dois dias. Pouco antes da nossa viagem..."
- " Que imprudente, meu amor... Agora seremos nós e eles. Somos uma família!", dizendo isso como quem desabafa uma vida repleta de privações porém, plena em amor.
A água foi baixando e o seu lar parecia salvo. Qual nada...
O vento lancinante se abateu sobre eles e João quase foi levado. Uniram-se, agarrando-se  numa espécie de corda. O vento foi diminuindo, diminuindo, até que cessou.
- " Ufa!"- Maria, aliviada, olhou para João e sentiu-se salva.
- " INVASORES!"
João e Maria correram o máximo que conseguiram, pularam os obstáculos metálicos, penduraram-se até que, tudo serenou.
- " E então, João? Continuaremos aqui?"
- " Melhor não... Segurança não há e o nosso abrigo de rua, embora pobre e sujo, onde a comida é escassa e rala, será melhor para a nossa família."
E assim se foram, sem mágoas.
Deixaram o cão Poodle- que era o "Palácio" de suas vidas- e havia ido à loja de animais, para banho e tosa.
Saíram pulando em direção ao Rex, o cão de rua, que foi o albergue da chegada à capital.
Vida de pulga não é fácil!
Beijos,
Adri.

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