terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Brasil X Inglaterra

Há situações na vida em que nos sentimos num campeonato. Principalmente, quando ainda somos crianças.
Ocorre que, durante uma viagem feita à Inglaterra, Oscar II, filho de uma família classe média com ares de superioridade, além do Big Ben só conseguiu ver a mão da mãe voando no pé da orelha:
" Está vendo, Oscar, que belezura este menino sentado à mesa ao lado? Que finesse! Quanta educação!", dizia Madalena, a mãe zelosa do Oscarzinho.
Queria um menino que usasse talheres de todos os tipos, preferencialmente em prata, para saber "como se portar quando se tornasse um D I P L O M A T A", dizendo isso com todos os dentes à mostra e um sorriso indecoroso de mãe alpinista e... falida.
Enfim, o menino sofria com beliscões por baixo da mesa, olhares que só faltavam cair boiando na sopa- Consomée! Ui!- e uns tabefes, muito "elegantes", vez por outra.
Neste dia, o "Segundinho" estava sofrendo, porque nesta disputa entre Brasil e Inglaterra o placar estava disparado a favor do time da casa. Era segundo até nisso...
O menino inglês, um lordezinho de séculos passados, sabia manejar os talheres, respondia à preceptora em seis idiomas- que assentia com a cabeça- falando sobre os pratos servidos e discutindo o cardápio com o mâitre como se fosse um grande conhecedor- tinha uns onze anos, no máximo.
Enfim, um chato de galochas. Aquele tipinho de criança que maneja muito bem o território dos adultos e se torna um mané quando se tratam de situações infantis.
A ciência os batizou de "espécimens estranhas nerdinossauros debiloides". E tenho dito.
Mas na cabeça loura platinada de Madalena, o moleque era o suprassumo da realeza infantil. Devia ter uma privadinha de ouro no banheiro da suíte e um mordomo para soprar-lhe a bundinha, logo após  uma duchinha morna e reconfortante.
O Oscar II passou a nutrir um ressentimento do inglesinho que foi aumento na proporção em que os pratos iam sendo servidos e- degustados! Aí era a perdição. O "Segundinho" era educado e tal, dava bem para o gasto, mas o "Lorde" era o gênio e aí, queridos leitores, era beliscão e aquele comentário maldito: " Vê se aprende alguma coisa com aquele moleque".
Queridos leitores. Sinceramente não entendo determinadas pessoas. Querem que os filhos sejam a nata da sociedade, mas não dão nem para o gasto! "Moleque"? Façam-me o favor!
Prosseguindo com o calvário no restaurante inglês e após muitos hematomas, o Oscarzinho suspirou quando percebeu que se aproximava a sobremesa e aí, ele batia um bolão. Era capaz de comer manga com garfo e faca sem sujar o guardanapo. A mãe se orgulhava em dizer isso para as amigas:
" Marinalva, minha filha, sabe que o Oscar II aprendeu a comer manga com garfo e faca?
" Não?????"
" Sério. E não é só isso. Está aprendendo sobre vinhos e taças. É..."
" Mas ele só tem dez anos, não é?"
" Aprenda uma coisa para ver se seu filho chega a algum lugar, Marinalva minha amiga- amiga?!
A gente tem que ensinar tudo o que for chique, para o filho deslanchar antes dos dezoito anos. Com dez anos está até um pouco atrasado, mas o professor, um tal de "Sommelier", acho que é esse o nome dele- se não for é Sandro, enfim, ele disse que o Oscar II está indo bem nas aulas.
" Sommelier?"
" É! Sei que o nome é com "S". O que atrapalha um pouco é a asma que o coitado tem, diminui o olfato mas eu vou dar um jeito nisso."
" Como, Madá?"
" Vou fazer uma operação no nariz, rino...rino..., enfim, uma plástica na nareba do moleque e vai queimar as carnes lá dentro. Um espetáculo!"
" Ah, mulher! Vou fazer isso no Segesmundi"
" Sabe que até hoje não me conformo com este nome. Não entendo porque colocou um nome tão estranho, com tanto nome bonito no Brasil: Washington, Michael- igual ao "Jackson"- Wallace..."
" Você, amiga, às vezes é meio ignorante, com todo o respeito. Segesmundi Froidi foi o "Pai" da Eutanásia".
" Eu sei! Só que não é nome B R A S I L E I R O!".
Entenderam o ritmo da mamãe exigente, não é?!
Pois então, na sobremesa o Oscar II deu um show! Fez tudo certo, limpou os cantinhos da boca com um leve toque do guardanapo de linho egípcio e o pousou ao canto do prato.
Ao olhar para o lado, para a mesa do seu arquiinimigo - durante a refeição o nível de rancor só foi aumentando- a cena que lhe valeu a taça de campeão: o inglesinho, todo pomposo, ao terminar a sua sobremesa em vários idiomas ... limpou a boca NA MANGA DA CAMISA.
E foi GOOOOOOOOOOOOOOOOL do Brasil!
Oscarzinho, numa redenção cor de roxo hematoma, dizia sem cessar para a mãe:
" Viu só! Foi na maaaaaaaaaanga!"
Mas de manga o "Segundinho" entendia tudo.
Beijos,
Adri.

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